Diário de um jovem Brasil

Considerados um dos mais importantes registros sobre os primeiros anos do Brasil, os manuscritos intitulados Diário da navegação da armada que foi à terra Brasil em 1530, sob a capitania-mor de Martim Afonso de Sousa devem sua descoberta ao historiador brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen. Fundador do Instituto Historiográfico e Geográfico Brasileiro, Varnhagen foi também responsável por sua primeira publicação em 1839, mesmo ano em que os encontrou na Biblioteca Real da Ajuda, em Lisboa. Apesar de sua importância, a obra estava longe das livrarias brasileiras desde 1962. Quase cinco décadas depois, a aventura expedicionária de Martim Afonso de Sousa volta singrar nossas prateleiras em um belo projeto da Editora Terceiro Nome.

Assinada por Vallandro Keating e Ricardo Maranhão, Diário de Navegação – Pero Lopes e a expedição de Martim Afonso de Sousa (1530-1532) é resultado de uma profunda pesquisa historiográfica. Ricamente ilustrada, capa dura e com texto delicioso e esclarecedor, a obra é fruto do diário mantido por Pero Lopes de Sousa durante sua experiência como integrante do corpo expedicionário português, comandado por seu irmão Martim Afonso. Formada por cinco embarcações, a esquadra deixou o porto de Lisboa rumo ao misterioso e desconhecido Brasil no ano de 1530. Muito detalhado e dono de riqueza descritiva poucas vezes vista em documentos da época, o Diário de Navegação, de Pero Lopes, registra os acontecimentos que marcaram os dois anos da empreitada.
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Criada sob o pretexto de dar início à colonização, na verdade a expedição tinha como principais objetivos descobrir metais preciosos e expulsar das novas terras os franceses que não reconheciam o Tratado de Tordesilhas e estavam decididos a pegar seu pedaço do novo mundo por meio de invasões. Normalmente citada quando se fala na fundação de São Vicente, a importância da expedição vai muito além. A viagem percorreu toda a costa brasileira, da Paraíba ao Rio da Prata, daí até o Rio Paraná.

Os confrontos com os franceses, negociatas com nativos e o estranhamento perante o desconhecido dão à jornada dos Sousa todos os ingredientes para um bom romance de aventuras náuticas, o que é explorado pelos autores da nova edição. Ao contrário das anteriores, não se trata apenas de uma transcrição do diário – que aparece completo na segunda parte do livro. Aqui, os manuscritos de Pero Lopes funcionam apenas como fio condutor para a narrativa. Diferentemente do texto original, marcado pela linguagem técnica de um experiente homem do mar, é de fácil leitura e não segue o padrão acadêmico que marca a maioria dos livros de história, aproximando-se muitas vezes dos romances de Emílio Salgari, por exemplo. Associados ao texto estão os desenhos criados especificamente para esta edição e que adicionam à leitura uma experiência também visual. Para completar, a pesquisa incluiu a busca por mapas da época que traçam um completo retrato da geografia daquele período, fazendo justiça à importância histórica do documento.

» Diário de navegação, Pero Lopes e a expedição de Martim Afonso de Souza (1530-1532), Vallandro Keating e Ricardo Maranhão, Editora Terceiro Nome, 266 páginas.


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