Diário de Um Vagabundo vai ter que esperar

Por aqui, caros leitores, continua tudo tranquilo, tudo sob controle, sem novidades.

Durante anos, sonhei com esta abertura de matéria para quando finalmente pudesse realizar meu grande sonho profissional: ser correspondente numa praia e todo dia poder repetir a mesma informação.

Na virada do milênio, numa das vezes em que pensei em largar tudo e, finalmente, escrever apenas sobre o que me desse vontade, quando desse, resolvi radicalizar. Em vez de matérias diárias, ficaria em Toque Toque Pequeno para escrever um livro chamado Diário de Um Vagabundo. Tinha acabado de sair da TV Bandeirantes, onde era diretor regional de jornalismo e ganhava um bom salário.

A idéia surgiu numa conversa com o jornalista Roberto Feith, antigo repórter da Globo e hoje um dos grandes editores brasileiros, comandante da Objetiva. Era bem simples: registrar num diário o cotidiano de um veterano jornalista, que depois de passar quase 40 anos na roda viva, entre guerras e crises, trabalhando nas grandes redações do país, abandona tudo e vai viver numa antiga aldeia de pescadores.

Falei da minha idéia a parentes e amigos durante as férias de verão, mas ninguém me levou a sério. “Você não aguenta dois meses fazendo isso”. Tinham razão. Até comprei um caderno grande, para ir anotando minhas conversas com os caiçaras e as cenas que via entre a montanha e o mar nesta pequena faixa de terra na Rio-Santos, mas apenas um mes depois já tinha deesistido do projeto.

Depois que todo mundo foi embora e isto aqui ficou deserto, não conversando com mais de meia dúzia de pessoas por dia, sempre os mesmos, sobre os mesmos assuntos (o tempo, a maré, os cachorros vadios da praia, se o mar estava bom ou não para peixe, mais ou menos como escrevi ontem), logo vi que não teria assunto para um livro e começou a me dar um tédio danado.

Liguei para um amigo diretor de redação de uma revista semanal e perguntei se ele não estava precisando de um bom repórter. Sim, claro, me falou o Augusto Nunes. “Sempre precisamos de bons repórteres. Você conhece algum?” Indiquei-me a mim mesmo e no dia seguinte já estava em São Paulo trabalhando na redação da revista Época. Queria voltar a ser repórter, depois de quatro anos dirigindo redações de emissoras de televisão.

Todo fim de ano agora relembro este episódio do livro que não escrevi, sem pensar em repetir a experiência de 2000, mas desta vez bati meu próprio recorde. Como alguns de vocês devem ter visto ontem _ poucos, é verdade, porque tinha previsto minha volta ao Balaio para o dia 12 e não houve aviso prévio nem posterior na capa do portal _ aguentei apenas 10 dias longe do teclado e dos leitores.

Só aí me dei conta de como é diferente a relação entre o jornalista de uma grande redação e o solitário blogueiro de um Balaio. No jornal, na revista ou na TV, você sai de férias e ninguém nem repara porque há dezenas, centenas de outros profissionais tocando o barco, não deixando a peteca cair.

Na internet, não. Você cria um diálogo permanente e direto com os leitores e quando ele é interrompido parece que você perdeu o elo com o mundo. Alguns leitores até reclamaram quando lhes dei uma folga na passagem do ano, mas não sou cabotino nem pretensioso pra dizer que voltei antes só para atendê-los.

Eu é que não aguentava mais ficar só em casa lendo, brincando com as crianças e vendo a chuva cair. Senti falta de escrever e, principalmente, de receber os comentários de vocês. Dizem que isso acaba virando escravidão, mas não me importo. Sou escravo liberto que hoje só faço o que gosto, onde quer que esteja, sem precisar sair de casa.

Depois que inventaram a internet e cairam na besteira de me abrir este generoso espaço aqui no iG, não quero saber de outra vida. Outro autor, se quiser, que aproveite a idéia e escreva o Diário de Um Vagabundo. Se depender de mim, este livro vai ter que esperar muito

Em tempo: aos leitores interessados em se informar bem sobre o conflito do Oriente Médio e me cobraram que escrevesse mais a respeito, tarefa para a qual não sou o sujeito mais indicado, por não ser um estudioso do assunto, nem dispor de informações além das que leio nos jornais, recomendo que leiam tudo o que escrever no iG o grande Naum Sirotsky, correspondente bem informado e isento, com a maior credibilidade, apesar e além do sobrenome.


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