Dilma, 3º mandato e a CPI da Petrobrás

Brasileiros – O senhor já afirmou várias vezes que é contra um terceiro mandato consecutivo em 2010, mas muita gente da oposição e da imprensa ainda duvida disso. O que ainda falta o senhor dizer para tirar este assunto da pauta?

Presidente Lula – Esse assunto, Ricardo, não sai da pauta porque virou uma bandeira da oposição. Todo mundo sabe que eu já era contra o segundo mandato, contra a reeleição, porque eu sou favorável à alternância do poder. E acho que somente o tempo vai calar aqueles que continuam teimando em dizer que eu quero um terceiro mandato.

Brasileiros – Nem se o povo pedir?

Presidente Lula – Não, definitivamente não, nem se o povo pedir. É preciso lembrar que, em 1978, quando fui eleito com 92% dos votos para presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, convoquei uma assembléia exatamente para proibir mais de uma reeleição. A iniciativa foi minha.

O diálogo acima, entre o repórter do Balaio e o presidente Lula, faz parte de uma entrevista, que fiz com ele para a revista Brasileiros, em dezembro de 2007 – um balanço dos seus primeiros cinco anos de governo.

Um ano e meio e dezenas de conversas que tivemos depois, em nenhum momento o presidente deu qualquer sinal de que tenha mudado de idéia sobre o terceiro mandato.

Neste meio tempo, ao contrário, Lula lançou a candidatura da ministra Dilma Roussef e tem se empenhado com muita garra para fazer dela a sua sucessora, como bem sabem a imprensa e a oposição.

Mas não adianta. Sem bandeiras, sem discurso e sem unidade para se apresentar ao eleitorado em 2010, vira e mexe a oposição ressuscita o fantasma do terceiro mandato, já que a crise econômica mundial e a gripe suína não causaram o estrago esperado na popularidade do presidente e na aprovação do seu governo.

Um mês atrás, logo que o país foi informado sobre a doença da ministra Dilma, o fantasma voltou ao noticiário – primeiro, nas colunas de futricas políticas e, em seguida, em declarações de dois líderes da oposição, os senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Demóstenes Torres (DEM-GO).

Não demorou muito, e a tese foi abraçada por alguns bobos alegres do baixo clero do petismo, que sempre aparecem nestas horas para cavar uma brecha no noticiário .

Estes gaiatos certamente nunca ousaram falar com Lula sobre o assunto, mas conseguiram açular colunistas e porta-vozes da oposição, cada vez mais alarmados com o “perigo do terceiro mandato”.

Agora apareceu até uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) propondo um plebiscito sobre o terceiro mandato, que estaria na gaveta do deputado Jackson Barreto (PMDB-SE), uma figura folclórica, que nunca ninguém levou a sério, nem na base aliada, nem no Congresso Nacional.

Os adversários políticos de Lula, nos partidos e na mídia, e os puxa-sacos sem noção, podem falar tudo do presidente, menos achar que ele é burro.

Por mais que a oposição não queira, Lula entrega o cargo a seu sucessor ou sucessora na data prevista pela lei – e fim de papo.

E já que esta bobagem de terceiro mandato não assusta mais ninguém, a não ser alguns colunistas e grandes estadistas tucanos como Álvaro Dias, do Paraná, e Arthur Virgílio Neto, do Amazonas, tiraram da manga um outro factóide: a CPI da Petrobrás.

No melhor momento da vida da maior empresa brasileira, quando o mundo todo está de olho nas recém-descobertas reservas do pré-sal, os nobres senadores da oposição juntam meia dúzia de recortes de jornal para montar o circo da CPI, que eles imaginam capaz de abalar o governo e alavancar para 2010 a candidatura presidencial do consórcio PSDB-DEM-PPS, estes baluartes da ética e do progresso.

Como não têm nenhuma proposta para melhorar a vida dos brasileiros, resolveram jogar “no erro do adversário”, como se diz no futebol. O governo bobeou, acreditou mais uma vez na fidelidade do seu aliado PMDB, e lá estão nas manchetes, em lugar do mar de lama que inundou o Congresso Nacional, os valentes criadores da CPI da Petrobrás.

A exemplo do que tem acontecido em todas as últimas “crises do fim do mundo”, quando um tema caro (nada é feito de graça) à oposição monopoliza todo o noticiário, é dos leitores e não de jornalistas que surgem as melhores análises sobre o que está acontecendo.

Quem melhor resume esta história nos jornais de hoje é a leitora Mara Chagas (São Paulo, SP) em carta publicada no Painel do Leitor da Folha:

“Mais uma CPI aberta por força do ‘patriotismo’ do PSDB. O senador Arthur Vinrgílio se diz `preocupado´com o nosso patrimônio nacional. Desde quando? Quem vendeu empresas brasileiras a preços de banana, no limite da irresponsabilidade? O pior é que tudo começa com muito estardalhaço e termina com um belo acordo por baixo do pano. Já vimos este filme. Gastam-se tempo, saliva e dinheiro, enquanto Lula viaja embalado na sua enorme popularidade”.

Eles ainda não se deram conta de que não enganam mais ninguém.


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