Dilma no ataque, Serra na defesa

Alguma coisa estava fora de ordem e de lugar no debate de domingo à noite na TV Bandeirantes. Pela lógica destes confrontos decisivos, quando sobram apenas dois candidatos no segundo turno, quem está na frente fica na retranca e joga pelo empate, de preferência sem gols; quem está atrás, vai para o ataque, na base do perdido por um, perdido por mil, pois tem que arriscar tudo para virar o resultado.

Pois Dilma e Serra fizeram exatamente o contrário, inverteram os papéis. Desde a primeira pergunta que lhe cabia fazer, a candidata petista, que ganhou o primeiro turno e lidera o segundo, foi para a ofensiva, acusando diretamente o opositor pelas calúnias que vem sofrendo na campanha. A partir daí, Serra colocou-se na defensiva, apenas reagindo em rápidos contra-ataques, sempre com muito cuidado.

Foi como se Dilma, a caminho do debate, tivesse comunicado aos seus marqueteiros, conselheiros e protetores: “Sai da frente! Pode deixar, que eu resolvo, agora é comigo!” E foi para cima de Serra, sem largar o osso em nenhum momento do debate.

Preparado para mais um encontro na base do “paz e amor”, sem ataques nem confrontos como os anteriores, e confiando no clima ameno anunciado fartamente pelos jornais, a principio Serra parecia não acreditar no que estava vendo e ouvindo de Dilma, mas procurou não fugir do seu script de se apresentar como um tranquilo estadista com muitos feitos a apresentar em sua longa carreira.

Para quem a acusava de estar se escondendo atrás de Lula, sem mostrar quem é e o que pensa, engessada por uma campanha baseada em “cálculos científicos” e pesquisas qualitativas, Dilma até que se saiu muito bem no novo papel de candidata ousada, independente e afirmativa, sem medo de correr riscos. Se isto vai lhe acrescentar ou tirar votos, é outra história, que só as próximas pesquisas poderão esclarecer – ou não, sabe-se lá

De seu lado, José Serra viu-se obrigado a defender o governo Fernando Henrique Cardoso e a discutir uma pauta levantada pela adversária sobre a questão das privatizações, a defesa da Petrobrás e as ameaças dos tucanos ao pré-sal.

Baseado em pesquisas que mostraram o desgaste da adversária diante da enxurrada de denúncias publicadas pela imprensa nas últimas semanas do primeiro turno, sempre que podia Serra colocava de novo na roda as lambanças da Casa Civil de Erenice e e o caso da quebra de sigilos fiscais.

Claro que a guerra religiosa sobre o aborto não poderia ficar de fora do debate, mas é difícil saber quem ganhou ou perdeu domingo com esta extemporânea e exdrúxula discussão que polarizou a campanha.

Com certeza, os únicos grandes vencedores desta viagem de volta ao passado são estes aiatolás fundamentalistas que juntam o que há de pior nas igrejas evangélicas e na católica. Eles devem estar se achando, mais do que Marina Silva, os fiéis da balança que vão decidir a eleição no Brasil do século 21.

O primeiro debate do segundo turno foi o melhor e mais animado na atual campanha, mas a meu ver não vai alterar muita coisa no cenário. Agora, com apenas oito pontos separando Dilma de Serra no segundo turno, segundo o Datafolha, o jogo continua aberto. O que será que esta semana nos reserva de fato novo? De onde partirá a próxima bala de prata? Cuidado, nunca se sabe


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