Dilma, uma mulher

Conheci Dilma Rousseff dois anos atrás, por acaso, em um almoço informal. Meu marido, jornalista, e eu éramos convidados.

Uma mulher agradável, sem nenhuma afetação.

Durante a conversa, assim que ela soube que eu era argentina e vivia no Brasil há 33 anos, fez questão de elogiar a minha terra. A comida, o vinho, a literatura. Para em seguida comentar o quanto, na sua opinião, o país tinha perdido com a venda da YPF.

Ela se referia ao paulatino esvaziamento da empresa estatal Yacimentos Petrolíferos Fiscales, criada no começo do século XX na Argentina, que chegou a ter 50 mil funcionários. A brutal política de endividamento financeiro que o então Ministro da Economia da ditadura, Martínez de Hoz, impingiu ao país a partir de 1976, levou à venda da YPF por Menem, em 1990, para a REPSOL, empresa de capital espanhol, por um valor infinitamente menor ao que realmente valia.

Explicou detalhadamente o processo, valores e como a Argentina tinha, com isso, perdido estrategicamente a oportunidade histórica de manter suas reservas e uma posição de independência econômica. Explicou como, casualmente, era esse o desafio no Brasil com a Petrobras, e não como preconizavam alguns o mero “inchaço” do Estado.

Uma aula, claro, de alguém que tinha sido Secretária de Minas, Energia e Comunicação do Rio Grande do Sul.

Um ano depois, Dilma foi indicada para concorrer à Presidência, na sucessão do governo do Presidente Lula.
Lembrei-me daquele encontro. Lembrei-me da afabilidade, mas também da firmeza e do conhecimento que tinha me transmitido.

Pensei: “Nossa!!! Quanto trabalho pela frente. Vai ter de continuar defendendo o petróleo e com a mesma sabedoria aumentar o salário dos professores e a qualificação deles urgentemente, porque agora temos mais crianças na escola. Criar ainda mais emprego. Cuidar do desenvolvimento sem descuidar da diversidade e do meio ambiente! Cuidar da saúde e, como é mulher, defender ainda melhor os nossos direitos!”. Pensei… “Vai ter de por corrupto na cadeia, lutar contra o tráfico!”.

E aí… claro, imediatamente pensei no nosso dia a dia. Nas milhares e milhares de mulheres que todos os dias amamentam, saem para trabalhar, divididas entre o gerenciamento de suas casas e suas profissões. Nas mulheres que todos os dias têm de tomar decisões perante o crescimento de seus filhos, decisões às vezes impossíveis, dolorosas.

E aí pensei: “Ela tem muito trabalho sim…, mas pelo visto vai dar duro. E como as outras…’sin perder la ternura jamás!’…”


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