Há uma ausência de atenção da escola formal para a educação em direitos humanos, voltada para tratar de temas como igualdade, discriminação, respeito e democracia na escola, disse Ana Rosa Abreu, mestre em psicologia educacional e diretora do Vlado Educação, setor de educação em direitos humanos do Instituto Vladimir Herzog, que, por meio do projeto Respeitar é Preciso!, implementou a educação em direitos humanos em 21 escolas municipais de São Paulo, atingindo mais de 10 mil alunos, pais, educadores e funcionários das escolas.
“O ensino fica muitas vezes focado na transmissão de conteúdos e, ao não se dar conta de que existe um convívio onde essa aprendizagem vai acontecer, deixa de tratar questões de hostilidade, de discriminação, que permeiam as relações escolares e faz com que as crianças não tenham o ambiente propício para aprender”, diz Ana.
A especialista explica que essa defasagem acaba comprometendo a finalidade maior da escola, que é ensinar esses conteúdos. “A educação em direitos humanos é uma educação de respeito ao outro e respeito a si mesmo”.
No projeto Respeitar é Preciso! o principal interlocutor são os educadores, porque eles podem introduzir uma nova prática dentro da escola. “Chamamos de educador todos os adultos, inclusive os funcionários. A ideia é que todos participem e tomem consciência do que estamos falando, do que são esses conflitos que acontecem no dia a dia da escola, que muitos deles não são percebidos, não são vistos”, disse.
Atividades
O instituto oferece um material de orientação e tem também a formação de educadores em mobilizadores, para que desenvolvam as atividades no cotidiano escolar, além do contato direto com os educadores do próprio instituto. “Os grupos de trabalho nas escolas discutem temas, fazem atividades de sensibilização e fazem atividades para diagnosticar o que está acontecendo na escola, quais são os problemas”.
A partir desse mapeamento, o grupo faz um plano de ação e desenvolve mudanças, algumas ações que transformem as relações e o cotidiano dentro da escola. “Seja do ponto de vista dentro da sala de aula, seja na questão da rotina, seja na questão da própria relação e da participação dos alunos, e aí, é simultâneo, os alunos começam a se envolver em projetos, mas que são realizados juntos com os professores na escola”, disse.
Aumento da conscientização
Ana avalia de forma positiva os resultados nas 21 escolas em que o projeto já foi desenvolvido. Segundo ela, houve grande aumento da compreensão e da conscientização do que é a educação em direitos humanos, além da identificação de que alguns problemas, antes considerados disciplinares, que apareceram sob a ótica das relações de respeito.
“(Houve) uma diminuição de ocorrências disciplinares na escola, isso foi bastante visível, e uma participação maior dos alunos em atividades coletivas da escola, atividades dentro da escola envolvendo educadores e alunos”, disse.
A educação em direitos humanos será tema de uma palestra feita pelo Instituto Valdimir Herzog, em parceira com a Caixa, no sábado (30), na Caixa Cultural São Paulo, no centro da capital paulista, às 11h. Na palestra, Ana Rosa Abreu e Maria Victória Benevides, que é socióloga, cientista política e educadora, vão falar sobre a importância dos direitos humanos nos primeiros ciclos de educação escolar.
Haverá também uma segunda palestra, às 14h, sobre Justiça de Reparação, com Marco Antônio Rodrigues Barbosa, advogado e representante da família Herzog no processo contra a União, em 1978, que confirmou que o jornalista Vladimir Herzog havia sido torturado e assassinado por agentes do estado sob a ditadura; e Marlon A. Weichert, procurador regional da República há 20 anos, trabalhando majoritariamente na área de promoção e proteção dos direitos humanos.
Ambas são abertas ao público e gratuitas. Os interessados precisam se inscrever pelo telefone da Caixa Cultural (11) 3321-4400.
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