Até uma década atrás, pouco se sabia no Brasil sobre a rica e diversa cultura da região dos Bálcãs, onde estão localizados países como Grécia, Sérvia, Croácia, Bulgária, Macedônia, parte da Turquia, entre outros. Se os trabalhos de alguns artistas destacados, como o cineasta Emir Kusturica ou o músico Goran Bregovic, já haviam conquistado espaço por aqui, eram casos pontuais e com um nicho restrito de admiradores. Atualmente, a situação é outra. Seja com as roupagens tradicionais ou apenas como influências sutis, a música e a dança dos países balcânicos – de fortes traços ciganos – angariaram entusiastas e tornaram-se mais presentes em palcos, pistas de dança e casas de shows do País. É nesse contexto que São Paulo recebe, a partir do dia 23, o Festival de Dança e Música dos Bálcãs, com espetáculos, aulas, festas e workshops.
É difícil cravar com precisão os motivos da popularização da cultura balcânica, mas é certo que ela está relacionada à pacificação da região após as guerras da Iugoslávia e do Kosovo, nos anos 1990. “Acho que o percurso é meio esse. Eles têm a guerra, que é uma destruição, um despedaçamento de tudo. Depois, começam a juntar seus pedaços, e nisso a arte é uma coisa que unifica. Então, vão se reerguendo, criando força, e as pessoas vão sabiamente tomando para si a cultura, transformando-a e tornando-a viva. E vivemos hoje em um mundo hiperglobalizado”, afirma Betty Gervitz, curadora do festival. Mas não é o contexto que pode explicar a fascinação que as levadas e ritmos balcânicos causam nas pessoas. Aí, música e dança falam por conta própria: “É um negócio que tem pique, alegria. É um som quente, que cria fantasias, leva as pessoas para um universo mais lírico”, diz Gervitz.
(No vídeo abaixo, cenas de filme de Kusturica e trilha de Bregovic)
Ao longo dos últimos anos, além de Kusturica, Bregovic e outros da região, a difusão dos gêneros balcânicos continuou também por meio de artistas ocidentais, como o DJ alemão Shantel e as bandas Beirut (EUA) e Gogol Bordello (formada nos EUA com membros de diversos países). Uma das atrações internacionais do festival, por exemplo, é o grupo americano Zlatne Uste, que já chegou a se apresentar no festival de Guca (Sérvia) – o mais tradicional evento de música dos Bálcãs do mundo (leia aqui). Os outros estrangeiros convidados são Istambul Quartet (Turquia), Izvor (Bulgária) e Methoris (Grécia). Do Brasil, estão na programação Mutrib, Mawaka, Orkestra Bandida e Balkan Neo, bandas que comprovam a força com que a cultura da região europeia chegou por aqui.
O eixo de dança do festival, por sua vez, é mais focado em workshops e cursos de capacitação de professores do que em espetáculos, e reúne coreógrafos e pesquisadores especializados em danças circulares (estilo predominante nos Bálcãs). “A dança de roda é uma ferramenta bacana de se trabalhar em escolas. Ela tem uma propriedade de integração. É coletiva, sem competição”, afirma Gervitz. “E nos Bálcãs, homens, mulheres, crianças, todos dançam. Me incomoda como no Brasil a dança virou coisa para mulheres. É preciso trabalhar isso na escola, mostrar para os meninos que dançar é algo normal e prazeroso.”
E, para isso, nada melhor que as levadas balcânicas, conclui a curadora: “A gente vive em um mundo que propicia muito a solidão humana. E acho que essas danças e músicas favorecem a relação entre as pessoas e um sentimento de pertencimento”.
Serviço – Festival de Dança e Música dos Bálcãs
SESC Pompeia (Rua Clélia, 93)
De 23/4 a 7/5; programação no site sescsp.org.br
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