Direto da década de 1970

Meus caros, me confesso decepcionado com a nova mini-série Macho Man, de Alexandre Machado e Fernanda Youg. O primeiro capítulo está no YouTube. A receita tinha tudo para dar certo, pois os autores são campeões na televisão brasileira, criaram Os Normais, além de diversos outros textos excelentes, e trouxe para esta nova empreitada atores do quilate de Marisa Orth e Jorge Fernando. O tema, sexualidade, é sempre atual. É possível uma pessoa deixar de ser gay? Sexualidade é assim tão flexível? Ser ou não ser é algo muito mais complexo do que o povo em geral possa entender. A resposta pode até ser polêmica, pois nem todos entendem sexualidade, senão de pontos de vista pobres e cristalizados. Pois é exatamente desse campo riquíssimo, que duas pessoas com o olhar treinado de Fernanda e Alexandre partiram, e o conceito do seriado abre portas maravilhosas. É uma pena que tenham errado para o estereotipo tão óbvio. O mundo gay não é apenas aquele festival de trejeitos e pelúcias que eles tão cuidadosamente demonstraram. Aquele é exatamente o que muitos héteros acreditam que somos, como adoram nos descrever, e do qual partem os olhares preconceituosos, pobres, e perigosos. Uma ou outra bicha se comporta daquela maneira, mas a esmagadora maioria de nós é gente normal, igual aos demais, luta exatamente para ser visto assim. Pode até mesmo frequentar os dois universos, hétero ou não, sem problemas de ser visto ou entendido apenas pelo ponto de vista de sua sexualidade. Infelizmente, assim foi assim o primeiro capítulo de Macho Man.

Marisa Orth sempre será brilhante naquilo que fizer, dela não se espera menos, e ela nunca decepciona. Não poderia fazer milagre, é atriz, não diretora. Sabe ser engraçada, já o foi inúmeras vezes, e  seu personagem, uma ex-gorda, promete muito, tem um campo enorme pela frente. Jorge Fernando é bárbaro, mas se tornou tão estereotipado, uma caricatura tão óbvia e falsa, que chega a constranger. Saem juntos para uma boate gay que eu acredito que não exista mais desde os anos 1970. E desse assunto eu entendo. Quando partem para o universo hétero, no qual um homem hétero e (lindo de morrer) carrega uma arma de fogo na cintura, francamente, indago se realmente alguém acredita que isso seja possível. Toda e qualquer casa noturna impõe a revista na entrada exatamente para isso.

Em resumo, queridos, esse foi apenas o primeiro capítulo, espero muito mais, eles têm a chance de fazer melhor, e espero que tentem. Quanto à pergunta por detrás da história, sobre a possibilidade de se transitar por ambas as sexualidades, sentindo atração por pessoas de ambos os sexos, a resposta é um rotundo sim. Sem cair nas armadilhas que cercam o conceito da bissexualidade, bombardeado por gays e héteros que lutam para defender suas vidas, só quem queira se prender  a um personagem, com medo de evoluir, de mudar de olhar sobre si mesmo ao longo de uma vida, pode responder que não. Sou eu mesmo testemunha disso, pois já fui casado com uma mulher bárbara, foi a relação afetiva mais feliz de minha vida, e hoje sou gay, assumo com toda a coragem. Ficarei assim até o fim dos tempos? Só Deus sabe, mas estou pronto para tudo. Abraços do Cavalcanti.


Comentários

2 respostas para “Direto da década de 1970”

  1. Meu caro, também estou esperando um pouco mais. Vamos dar uma chance. Beijas.

    1. Baronesa, acho que eles podem melhorar, e muito. Aguardo ansioso.
      Abraços pudicos,

      Lourenço

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