Ditadura no divã

Na noite da última segunda-feira, 15 de abril, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo recebeu a primeira edição do projeto “Conversas Públicas”, que tem como objetivo alinhar o programa “Clínicas do Testemunho Projeto Terapêutico”, que irá tratar psicologicamente de anistiados políticos e de seus familiares de forma profissional.

Entre os presentes no auditório Paulo Kobayashi, diversas autoridades que fazem parte da organização e, na platéia, diversas vítimas da ditadura. Filhos sem pais, netos que nunca conheceram seu avô, mulher que perdeu seu marido…

[nggallery id=16140]

Paulo Abrão, Presidente da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça, de última hora não pode comparecer, mas mandou Rita Cefair para representa-lo. Ela revelou que a Comissão da Anistia já vem reparando os danos morais e materiais daqueles que sofreram nas mãos do governo militar e que essa volta ao passado, para se provar tudo o que cada um enfrentou no período, acaba sendo muito dolorido, psicologicamente, para os envolvidos.

Moisés Rodrigues da Silva Jr., Presidente do Instituto Projetos Terapêuticos, também falou no lançamento do projeto e comemorou o fato de que, finalmente, o Estado começa a assumir a responsabilidade pelo mal que causou, não apenas para aqueles que atingiu diretamente, como aqueles que sofreram por tabela.

Outro que também comemorou a mudança de paradigmas recente na luta pela pela verdade e pela justiça foi Eduardo Losicer, psicanalista, Membro da Clínica do Testemunho, Projetos Terapêuticos do Rio de Janeiro. Nascido na Argentina, Losicer foi militante em seu país de origem, de onde saiu em 1976. “Nunca estive sentado em uma mesa com o ‘Estado’. Ainda mais feliz”, comentou arrancando risos da platéia.

Antes do final do evento, foi transmitido para os presentes o emocionante 15 filhos, filme de 1996 que conta a história de 15 orfãos da ditadura militar no Brasil, narradas pelos próprios. Marta Nehring, que junto com Maria Oliveira dirige o filme, da depoimento na obra e conta lembranças que guarda de Norberto Nehring, seu pai, assassinado por agentes do Estado. “Foi fundamental a experiência do filme, foi como uma forma de terapia, assim nos encontramos (os filhos), e achamos uma identidade comum em nossas histórias, em nossas experiências”, lembrou ela.

Por enquanto, como foi explicado, serão abertas quatro clínicas: duas em São Paulo, uma no Rio de Janeiro e outra Em Porto Alegre, e elas atenderão somente aqueles que estiverem com o processo de anistia finalizado ou em andamento.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.