Conhecido por apresentar vasta programação, o Festival de Teatro de Curitiba, maior evento de artes cênicas do Brasil, chega à 23a edição. Com grupos consagrados e iniciantes, peças experimentais e comerciais, o evento, marcado por homenagens aos 450 anos de nascimento de William Shakespeare (1564-1616), dará maior destaque às companhias internacionais do que em outros anos. E a organização espera receber um público de 300 mil pessoas na capital paranaense.
Como de costume, a mostra tem dois eixos principais: o Fringe, braço que não passa por curadoria e se propõe a ser uma vitrine democrática da produção nacional; e a mostra oficial, para a qual se voltam as maiores expectativas, que tem nesta edição 35 peças escolhidos pelos curadores Celso Curi, Tania Brandão e Lucia Camargo.
“O teatro bom, que discute alguma coisa, pode ser comédia, drama, tragédia, experimental…”, afirma Curi, explicando a diversidade presente na mostra oficial. “E acho que todo mundo precisa ver um pouco de tudo”, completa, ressaltando também o papel do festival como formador de público. Com isso em mente, os curadores não se preocuparam em seguir uma linha temática fechada. “A gente não tenta achar um único fio condutor, mas entender o que se apresenta como desenho de interesse da produção cultural. Desse modo, não fica aquela pergunta: ‘O que queremos discutir?’. Acho que quem quer discutir são os artistas, e a gente vai tentar entender de que modo”.
Isso não significa que a mostra vá se tornar uma “salada” de temas e gêneros desconectados, já que, quando se trata da produção contemporânea, há diálogos que surgem naturalmente entre os espetáculos. “Por que montaram Ricardo III em tantos lugares ao mesmo tempo? Porque é atual, o tema da luta pelo poder, o poder a qualquer custo… É algo discutido na rua, no dia a dia”. O clássico texto de Shakespeare, portanto, entra na mostra oficial com duas montagens, de Marcelo Lazzaratto (São Paulo) e Sergio Módena (Rio de Janeiro), com linguagens distintas. Mas há fortes paralelos, ainda, entre peças como Um Requiém para Antonio e Otelo, ambas com uso de bonecos, e entre montagens estrangeiras e nacionais.
Sobre os espetáculos de fora – cinco ao todo –, Curi explica que a curadoria abandonou a preocupação de não “internacionalizar” demais o festival. “Com o tempo, percebemos que se a gente não tivesse um espelho do restante do mundo, íamos acabar nos perdendo. Tem coisas que estão acontecendo aqui e ao mesmo tempo na Coreia, por exemplo. Olhar para fora é também uma maneira de olhar para dentro.” Das atrações estrangeiras destacam-se o diretor argentino Daniel Veronese e a Royal Shakespeare Company, da Inglaterra.
Entre os brasileiros, há expectativas em torno de Entredentes, com Ney Latorraca e direção de Gerald Thomas, e de peças dos grupos Armazém, Balcão e Companhia dos Atores – já habitués de Curitiba. “É natural repetir quem faz trabalhos de qualidade. E isso é oferecer ao público a chance de ter um olhar crítico para a obra de um grupo ao longo dos anos”, diz Curi.
Serviço – Festival de Teatro de Curitiba
Acontece em vários pontos de Curitiba. Programação e horários no site festivaldecuritiba.com.br.
De 23 de março a 13 de abril.
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