Do tumulto à paz, só três horas de vôo

Só agora, final de tarde de sexta-feira, arrumei um tempinho pra carregar o Balaio depois de uma breve ausência sem atender à freguesia. Estou neste momento na avenida Beira-Mar, em Fortaleza, escrevendo na varanda de um hotel na praia do Meireles, mas para chegar até aqui enfrentei um sufoco danado.

O caos instalado em Cumbica hoje de manhã lembrou os piores momentos da crise aérea de 2006. Filas intermináveis no check-in da Gol, só um funcionário do lado de fora do balcão para domar os passageiros, todo mundo nervoso e sem saber o que estava acontecendo.

Como o tempo estava bom e não havia nenhuma notícia de greve de controladores de vôo nem de operação padrão no aeroporto, a explicação correu feito rastilho de pólvora: “o sistema caiu”. Deve ter caído muitas outras vezes, as empresas já deveriam estar preparadas para estas emergências, mas o que se viu em Cumbica foi o absoluto despreparo da Gol para lidar com o imprevisto.

Enquanto as filas tomavam todo o saguão, um senhor de idade começou a passar mal bem na minha frente, amparado pela mulher e um filho. Foi preciso berrar para que aparecesse uma funcionária (da Varig, não da Gol) para acudir o passageiro. E levou uma eternidade para que a companhia providenciasse uma cadeira de rodas.

No painel eletrônico acima dos guichês, o mesmo aviso piscava para vários vôos: “embarque imediato”. Mas, como, se as filas não andavam? O mais curioso é que em frente ao tumulto da Gol, estava tudo calmo nos guichês da Varig, empresa que agora pertence ao mesmo dono. Meu bilhete era da Gol e como o painel indicava que o vôo para Fortaleza seria feito num avião da Varig, perguntei ao solitário funcionário se poderia fazer meu check-in lá. Não, não podia.

O avião era da Varig, mas a passagem e a tripulação eram da Gol. Eu já não queria entender mais nada, só ir embora dali, depois de ainda esperar um tempão dentro do avião até que os outros passageiros conseguissem chegar, já que o tumulto era grande também na área onde os passageiros passam pelo raio-X.

Três horas de vôo depois, reencontrei a paz, olhando para este marzão esverdeado e calmo de Fortaleza, onde vim fazer uma palestra, depois de dias bastante complicados para mim, correndo para dar conta de todos os compromissos.

Nesta corrida de obstáculos, em que sobra serviço e falta tempo, acabei não escrevendo sobre um assunto que me deixou, primeiro, incrédulo e, depois, muito indignado. Não acreditei quando li a carta da senhora Yara Kassab comparando Obama a Lula publicada no Painel do Leitor da Folha de ontem.

Identificada como “doutoranda em história social”, ela criticou o jornal por ter publicado a matéria “Família brasileira vota em Obama e o compara a Lula”, achando isso um absurdo, diante do rico currículo acadêmico do doutor Obama diante do operário Lula.

Além de lembrar o óbvio para a preconceituosa doutoranda, ou seja, que o presidente eleito Obama ainda tem toda uma obra a fazer pela frente, enquanto Lula já entrou para a História como um dos maiores presidentes do Brasil de todos os tempos, gostaria de lhe dizer que eleição não é um concurso de títulos academicos.

A sua carta apenas serve para demonstrar como a má-fé, a intolerância e a ignorância podem caminhar juntas no meio acadêmico e em setores da elite paulistana que não entendem e não se conformam com a aprovação popular ao governo Lula.


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