A trama conta a saga de Sandra (Marion Cotillard), trabalhadora de uma empresa de painéis solares, que se recupera da depressão, e tenta manter o seu emprego. No entanto, Sandra está numa situação desfavorável: para que ela continue trabalhando, precisa de que seus colegas abdiquem do bônus salarial de mil euros que a empresa oferece. Pois a condição imposta pela gerência é a seguinte: se Sandra ficar, não é possível pagar bônus para os empregados. Como se não bastasse, ela tem o curto prazo de dois dias e uma noite até que a votação, que definirá seu destino, seja feita.
A partir daí, Sandra vai de porta em porta explicar sua situação e tentar convencer cada companheiro de trabalho. Com todo o suspense criado a cada abordagem, o filme ganha um caráter de thriller, como quando os colegas não se encontram em casa, ou ainda quando estão indecisos e preferem dar uma resposta no dia da votação.
As reações ao seu pedido são as mais diversas: complacência, violência, apoio e desdenho. A cada casa que chega, surge uma realidade diferente, e é então que ela se depara com as necessidades dos outros. Há o caso do pai que precisa do bônus para pagar a faculdade da filha, há outro que está com uma dívida para pagar, outro que quer reformar a casa etc.
Portanto, uma das principais questões levantadas pelo filme é a solidariedade e qual o seu peso na classe trabalhadora, numa sociedade individualista. Essa ação tampouco se dirige apenas dos companheiros de trabalho em relação a Sandra, mas o inverso também. Pois ela também terá sua solidariedade posta a prova quando seus colegas expõem suas condições pessoais para precisarem do dinheiro extra, ou como em um caso específico, de temer votar a favor dela, e ter seu contrato de trabalho não renovado.
Marion Cotillard desempenha uma performance visceral, no papel de uma mulher de psicológico debilitado, que ainda tem que ser mãe e esposa, e batalhar igualmente pelo casamento e pelo emprego. Os dois dias e uma noite são um tour de force da personagem e da atriz que passa por situações duras que mexem com questões como dignidade e orgulho. Ela reluta porque não quer expor sua vida pessoal, e não quer que os outros sintam dó dela, como ela mesma diz em certa parte do filme: “vou parecer uma mendiga”.
Para trazer equilíbrio ao caos na vida de Sandra, ela tem ao seu lado o marido Manu, que a toda hora a incentiva e insisti para que ela não desista. Interpretado pelo ator belga, Fabrizio Rongione, numa convincente atuação. O filme não trata da figura masculina forte e da feminina frágil, mas mostra que uma relação se baseia em cumplicidade e apoio.
Há momentos tristes, outros engraçados, sem nunca parecerem artificiais. O filme poderia se perder e se tornar um melodrama, mas a direção dos irmãos Dardenne tem uma dosagem balanceada para que nada ultrapasse do limite. Também, a câmera que observa de perto a saga de Sandra, dá um tom documental a Dois Dias, Uma Noite.
Ao tratar dos esquemas mesquinhos que empresas envolvem seus empregados, colocando um contra o outro, ou de casos de empregados adoecidos que são considerados inválidos e, portanto, descartáveis, o filme mostra que a pressão psicológica no mundo do trabalho não mudou nada.
No entanto, no final, há certa esperança: ainda que as empresas tentem, numa sociedade individualista, nem todos decidem pelo benefício próprio.
Veja o trailer abaixo:
Dois Dias, Uma Noite estreia nos cinemas brasileiros no dia 5 de fevereiro.
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