Quem esteve ontem (30), às 19 horas, no Auditório Ibirapuera testemunhou um momento de grande magia na carreira da jovem cantora e compositora Tulipa Ruiz. Os 806 assentos do Auditório estavam com lotação esgotada e do lado de fora o que se via eram outras centenas de pessoas lamentando não ter conseguido ingressos. Todos ali reunidos com o propósito de celebrar o lançamento de Efêmera, álbum de estreia de Tulipa, produzido pelo irmão e guitarrista Gustavo Ruiz e posto à prova em grande estilo.
[nggallery id=14283]
Para entender tal fenômeno de empatia, é fundamental estar de olhos e ouvidos abertos para esses novos tempos da nossa música. Tulipa lançou-se cantora há exatamente um ano, quando se apresentou pela primeira vez no palco do Teatro Oficina, e os últimos doze meses foram de consolidação de repertório, apresentações e disponibilização das canções na internet. Se em outros tempos a MPB dependia de rádios e festivais para impulsionar carreiras, essa nova geração que decretou um provável fim aos antigos mecanismos da indústria, hoje é capaz de tirar do anonimato qualquer mortal em questão de meses. Tulipa é uma representante legítima desses tempos e é inquestionável que muitos desses 800 cúmplices da cantora chegaram ali pelas mesmas vias.
O advento da internet e as novas tecnologias de produção e distribuição de arquivos musicais pela rede tornaram mecanismos viciados, como o famigerado “jabá” das rádios FM, em algo obsoleto e é notório que essa revolução teve curso em um momento de hiato criativo daquilo que ficou estabelecido como MPB. Desde os anos 1990, a indústria fonográfica estabeleceu um projeto de diluição de nossa música, por meio da exploração de gêneros maciçamente populares, como o pagode romântico, o axé e a música sertaneja; e o que ficou conhecido como MPB entrou em um evidente recesso produtivo. Essa geração articula-se de forma mais colaborativa e, embora não feche conceitos com unidade estética ou algo que sugira embriões de um novo movimento – como foi o Tropicalismo, no final dos anos 1960 -, vai fazendo de forma pulverizada suas pequenas contribuições para que a MPB dos anos 2000 tenha sua produção assegurada.
Em pouco mais de uma hora de apresentação, Tulipa mostrou todas as faixas de Efêmera e valeu-se de uma banda muito entrosada, acrescida de convidados especiais, como Donatinho, filho do mestre João Donato, nos teclados; e Stéphane San Juan na percussão. Uma das primeiras a apostar no talento de Tulipa – quando dividiram o palco da choperia do SESC Pompeia no show Prata da Casa, em 2009 -, Mariana Aydar subiu ao palco do Auditório para dividir vozes em Só Sei Dançar Com Você, canção que ao lado de Às Vezes, parceria dela com o pai e guitarrista Luiz Chagas, denota maior vocação para hit. Outro convidado que transita em obras de muitos de seus pares foi o compositor Marcelo Jeneci, que levou seu acordeão e cantou algumas músicas com Tulipa. A releitura de Da Maior Importância, de Caetano Veloso, foi um dos grandes momentos do show. Mais do que simples influência, uma canção como essa endossa a filiação da obra autoral de Tulipa com vertentes de vanguarda da MPB, como o Tropicalismo e a Vanguarda Paulistana, movimento este que teve no próprio Chagas – egresso do Isca de Polícia de Itamar Assumpção -, um de seus representantes mais ativos. Ao final, Tulipa incitou todos a levantar de suas cadeiras e dançar. Pedido prontamente atendido, mas com o fim do set list e a resistência da plateia, que ordenou um insistente pedido de bis, a banda voltou para refazer dois números já apresentados, sem que alguém ali se importasse. Cumplicidade que nos leva a apostar que a relação de amor entre a jovem autora e seu público está apenas começando. É esperar para ver o que virá.
|
Deixe um comentário