Doutrina e liberdade

Há 15 anos, nas comemorações do centenário da primeira exibição pública de cinema – promovida pelos irmãos franceses Auguste e Louis Lumière, em 1895 -, o cineasta dinamarquês Lars Von Trier subiu ao palco do Odéon Théâtre de L’Europe, em Paris, para divulgar o manifesto Dogma 95. Longe de representar um mero embate ideológico e uma alternativa ao cinema de propósitos estritamente comerciais, o manifesto acentuou a importância de adotar novas tecnologias e plataformas de captação, em defesa de um cinema de baixo custo, democrático e realista.
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Signatários do manifesto, Von Trier e o conterrâneo Thomas Vinterberg foram os primeiros a produzir fitas seguindo o rigor do decálogo imposto pelo Dogma 95 (ver abaixo). Vinterberg dirigiu o filme de estreia, Festa de Família, em 1997 e, a despeito da precariedade técnica proposital, o longa-metragem fez carreira e muita polêmica em grandes festivais. A fita seguinte, Os Idiotas, de Von Trier, causou ainda mais furor e aumentou a repercussão em torno das propostas do manifesto.

Alvo de severas críticas e discussões calorosas, até hoje, é inegável a influência do Dogma 95 nas produções que sucederam seu anúncio. Vide o caso do Brasil, que por intermédio do cineasta Jeferson De, adaptou os conceitos escandinavos para flagrar a realidade do negro no País, no que classificou como “Dogma Feijoada”. Certificados e catalogados, após rigorosa análise, os filmes incluídos na cinematografia do Dogma são vistos por Vinterberg e Von Trier, e devem seguir, um a um, os mandamentos do decálogo. O que poderia sugerir uma tresloucada iniciativa rendeu uma obra que vem de países tão diversos, como a Macedônia, a Hungria e a Itália, e chega à impressionante marca de quase 100 longas-metragens realizados nos quatro continentes.

Uma vitrine dessas produções será aberta nesta terça-feira (27), na Sala Cinemateca de São Paulo com o início da mostra Dogma 95 – 15 Anos Depois. Contando com o apoio do Instituto Cultural da Dinamarca, a mostra exibirá cinco dos mais representativos filmes, e encerra na terça-feira, 3 de agosto, com a última exibição de Os Idiotas. Após a sessão, às 21 horas, a professora associada de cultura e mídia, Bodil Marie Stavning Thomsen, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, apresentará uma palestra, com tradução simultânea, sobre o Dogma 95, o contexto em que foi originado e sua evolução.

OS DEZ MANDAMENTOS DO DOGMA 95

1. As filmagens devem ser feitas em locações. Não podem ser utilizados acessórios ou cenografia (se a trama requer um acessório particular, deve-se escolher um ambiente externo onde ele se encontre).
2. O som não deve jamais ser produzido separadamente da imagem ou vice-versa. (a música não poderá ser utilizada a menos que ressoe no local onde se filma a cena).
3. A câmera deve ser usada na mão. São consentidos todos os movimentos – ou a imobilidade – devidos aos movimentos do corpo. (O filme não deve ser feito onde a câmera está colocada; são as tomadas que devem se desenvolver onde o filme tem lugar.)
4. O filme deve ser colorido. Não se aceita nenhuma iluminação especial (caso haja pouca luz, a cena deve ser cortada, ou então, pode-se colocar uma única lâmpada sobre a câmera).
5. São proibidos os truques fotográficos e filtros.
6. O filme não deve conter nenhuma ação “superficial” (em outras palavras, é vetada a ocorrência de homicídios, armas, etc.).
7. São vetados os deslocamentos temporais ou geográficos (o filme se desenvolve em tempo real).
8. São inaceitáveis os filmes de gênero.
9. O filme final deve ser transferido para cópia em 35 mm, padrão, com formato de tela 4:3. (Originalmente, o regulamento exigia que o filme deveria ser filmado em 35 mm, mas a regra foi abrandada para permitir a realização de produções de baixo orçamento.)
10. O nome do diretor não deve figurar nos créditos.

Dogma 95 – 15 Anos Depois
Quando: de 27 de julho a 3 de agosto
Onde: CINEMATECA BRASILEIRA
Largo Senador Raul Cardoso, 207 – Centro – São Paulo
Site: www.cinemateca.gov.br
Telefone: (11) 3512-6111 (ramal 215)
Anormais em busca da verdade


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