Nascido no Rio de Janeiro há 36 anos, aos 18 o empresário Duda Magalhães topou com um conselho inspirador, meses antes de ingressar no curso de Administração na PUC-RJ. Durante breve intercâmbio em Santa Bárbara, na Califórnia, EUA, um artigo de Akio Morita, um dos fundadores da Sony, chamou a sua atenção. Morita defendia que, no século 21, o aspirante ao sucesso empresarial deveria cada vez mais adotar características inerentes à água. A analogia do executivo japonês reunia argumentos metafóricos: a água tem alta capacidade de transformação, pode ser encontrada em estado sólido, líquido e gasoso, e voltar a ser líquida, mesmo depois de sólida. Enfrentar adversidades também é característica da água, considerando-se que o mesmo rio que conduz a canoa de um pescador pode também suportar o peso de embarcações com toneladas de insumos.
Acaso ou destino, a história de sucesso de Duda, surfista ocasional, teve início em 2000, com um evento esportivo no litoral carioca. Em parceria com o amigo Sérgio Mello, ele viabilizou, por meio de sua primeira empresa, a SMS – Sports Marketing Solutions, a inclusão do Brasil no calendário do Campeonato Mundial de Windsurf ao organizar, em Búzios, a primeira etapa do torneio no País. Entre outros patrocinadores, Duda contou com o apoio majoritário da montadora americana Dodge/Chrysler, que pretendia impulsionar as vendas da pick-up Dakota junto ao público jovem.
Dois anos depois, o sucesso da primeira empreitada inspirou ação pioneira para a chegada do kitesurf no Brasil. Por meio de um primeiro evento, na Praia do Pepê, também no Rio de Janeiro, Duda e Sérgio começaram a difundir o esporte no Brasil. “Estimulamos um pequeno grupo de atletas a fundar a Associação Brasileira de Kitesurf e criamos, em 2002, o primeiro campeonato brasileiro.”
Não demorou muito, Sérgio aceitou o convite para trabalhar em uma multinacional e decidiu deixar a SMS. Sozinho, Duda criou a Movin’ Sports Entertainment. Nessa nova empresa, as palavras esporte e entretenimento incorporadas à razão social deixavam claro o segmento que ele pretendia atuar, o marketing voltado à produção de eventos nas duas áreas. Logo de cara, dois pontos altos deixaram patente que o jovem empresário tinha de fato potencial para ir além. Em março de 2005, Duda foi um dos sócios da operação que levou o músico Lanny Kravitz à praia de Copacabana. A apresentação gratuita reuniu público superior a 300 mil pessoas. Seis meses depois, ele foi coorganizador dos shows do DJ e compositor britânico Moby em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Durante 2007, Duda cursou MBA Executivo no Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Decisão estratégica, segundo ele, pois, além da necessidade de qualificar seus conhecimentos, o mercado começava a atrair investimentos de empresários que pretendiam confrontar a predominância das duas maiores empresas do setor, a pioneira Koch Tavares, criada no início dos anos 1970, e a Traffic Sports, fundada na década seguinte.
Ciente das pretensões de Duda, a produtora Roberta Medina, amiga de longa data e filha do publicitário Roberto Medina, presidente do grupo Artplan, não hesitou em recomendar a incorporação da Movin’ à Dream Factory, jovem companhia do pai dedicada ao marketing esportivo e de entretenimento. A sugestão de Roberta foi prontamente acatada pelo experiente Medina, e Duda passou a integrar o quadro de executivos da Artplan. Desde a histórica primeira edição em 1985, a empresa que deu origem ao grupo é responsável pela organização do festival Rock in Rio. Diretor geral da Dream Factory desde 2010, Duda atua em grandes eventos criados por Medina, como o festival carioca e sua edição portuguesa, em Lisboa, a Maratona da Cidade do Rio de Janeiro, a corrida da Ponte Rio-Niterói e a Árvore de Natal da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Além dessas produções, chamadas de “proprietárias”, a Dream Factory também se dedica à ativação de projetos de clientes, como a edição paulistana do festival espanhol Sonár, Maratona do Rio e o Carnaval de Rua do Rio de Janeiro, operação da cervejaria Antártica, que reúne ao longo de 40 dias cerca de 450 blocos e atrai milhões de foliões.
Em julho do ano passado, Duda encarou seu maior desafio: a produção, para a Arquidiocese do Rio de Janeiro, da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Se o Rock in Rio tem público médio diário de 85 mil pessoas, a JMJ reuniu mais de três milhões de fiéis, por quase dez dias. A equipe de 750 colaboradores liderados por Duda enfrentou momentos de turbulência, pois o evento coincidiu com a onda de manifestações que assolou o País a partir do mês anterior. “Do ponto de vista operacional, foram acesas luzes de atenção, principalmente na área de segurança. Sou um profissional antes da JMJ e outro depois dela. A jornada fez com que eu compreendesse melhor os papéis diversos da sociedade. Fomos também conselheiros e interlocutores da Arquidiocese para com a Prefeitura, o Governo do Estado, o Governo Federal e as concessionárias de água, telefonia e transporte.”
A mais recente operação de sucesso liderada por Duda é a primeira edição brasileira e sul-americana do TED Global, realizada no hotel Copacababa Palace, no Rio de Janeiro, a partir de hoje, 7 de outubro, até sexta-feira, dia 10. Com o slogan “ideias que merecem ser divulgadas”, o TED (sigla para Tecnologia, Entretenimento e Design) é uma fundação sem fins lucrativos, criada nos EUA em 1984, que dissemina, por meio de palestras de 3 a 18 minutos, ideias inspiradoras de lideranças mundiais. Pelo TED, já passaram personalidades como o ex-presidente americano Bill Clinton e Larry Page, criador do Google. Na edição brasileira, haverá 70 participantes de diversas áreas, entre eles, o neurocientista Miguel Nicolelis, o cineasta José Padilha e a astrônoma canadense Wendy Freedman.
Outro importante segmento de atuação da Dream Factory, desenvolvido em parceria com a empresa espanhola Relevance, é a área de consultoria. As atividades se desdobram em três ações: pesquisas de mercado, consultoria em marketing e análise de riscos sobre investimento. Duda realiza agora um estudo para a Confederação Brasileira de Atletismo – CBAT. A entidade pretende ampliar sua visibilidade e seu apelo comercial junto ao mercado publicitário até a realização da Olimpíada de 2016.
Apesar da aparente frieza que envolve a rotina de Duda, na qual tudo precisa ser calculado, o executivo, afeito a ondas gigantes, sugere que envolver sensibilidade em tudo que faz é um dos segredos de seu sucesso. “No segundo período da faculdade, descobri um mantra de vida. Sou aquele cara que se emociona ao passar uma mensagem que toque as pessoas e escolhi fazer o que faço porque acredito que o entretenimento tem esse poder inigualável de acessar a emoção das pessoas.”
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