E agora, The Economist?

Na mesma semana em que a respeitada revista inglesa pediu, em editorial, a cabeça do ministro da Fazenda, Guido Mantega – sugerindo a troca de toda a equipe econômica do governo Dilma Rousseff –, o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) deu uma prova incontestável de que acredita no receituário usado por aqui para estimular o desenvolvimento do País. O presidente do Fed, Ben Bernanke, anunciou que a taxa básica de juros da economia americana, mantida próxima de zero desde a eclosão da crise de 2008, vai permanecer assim até que a taxa de desemprego recue dos atuais 7,7% para 6,5%. Para os não iniciados no assunto, aí vai a leitura correta da decisão: o juro não vai subir até que a economia volte a crescer.

É claro que Bernanke não deixou de lado a inflação: se a alta de preços ultrapassar 2,5% (índice que, para eles, já é preocupante), a estratégia vai ser revista. O que não implica – a julgar pelo tom do comunicado – um tapa para cima nos juros ao primeiro sinal de inflação fora do controle. Em comunicado, o Fed explicou que vai monitorar “medidas adicionais” tomadas para influenciar uma série de indicadores econômicos. Qualquer semelhança com as medidas macroprudenciais adotadas no Brasil desde 2008, não é mera coincidência.

Vale lembrar que os 2,5% de tolerância para a inflação, sobre a meta americana de 2% ao ano, equivalem percentualmente à margem que o Brasil deixa para o que aqui é chamado “centro da meta” (de 4,5%, com teto de 5,5%).

Um dos motivos da chiadeira crescente (dentro e fora do Brasil) contra a performance de Mantega diz respeito à demora da reação do PIB – ou “PIBinho”, para quem preferir. O julgamento é precipitado, considerando que ainda há importantes medidas de estímulo a entrar em vigor apenas em 2013.

Uma grande mudança no cenário doméstico – essa, sim, mais do que visível – é o efeito da queda dos juros sobre a especulação financeira. Foram ao chão quase todas as possibilidades de ganho fácil com a arbitragem (prática de tomar dinheiro a juro baixo no exterior e aplicar nos outrora rentáveis títulos públicos brasileiros). Aí está um bom motivo para as pressões contra o ministro brasileiro.

Em entrevista recente à Brasileiros, o ex-ministro Delfim Netto defendeu que o México roubou do Brasil o posto de “queridinho” da vez no mundo das finanças, simplesmente porque “(o México) faz tudo o que o mercado quer”. É por aí.

Diante da postura nada ortodoxa adotada pela autoridade monetária da maior economia do mundo, resta a pergunta: Será que a The Economist vai ser mais tolerante com Ben Bernanke do que foi com o ministro brasileiro?

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