Duas publicações que chegam agora ao mercado trazem a história do rock’n’roll. As Raízes do Rock faz um retrospecto do gênero musical dos anos 1930 até meados dos anos 1950 e reúne mais de 300 imagens. Escrito pelo jornalista Florent Mazzoleni, a publicação traz ainda a evolução da indústria fonográfica, passando pelo crescimento dos grandes selos independentes e o surgimento dos discos de 45 rotações. Isso sem falar que o autor também se debruça sobre as questões raciais e sociais que permearam o rock nesse período.
O outro lançamento é fruto da geração que dizia não confiar em ninguém com mais de 30 anos, a revista Rolling Stone aos 45, talvez, já não inspire tanta confiança. Mas quando surgiu, em 1967, fazia parte da imprensa alternativa e seu lançamento representou uma mudança tão revolucionária no jornalismo quanto na década em que nasceu. São daí as memórias de Os Anos da Rolling Stone – Cada Foto Conta uma História, livro do fotógrafo Baron Wolman.
Tudo teria partido do jovem jornalista Jann Wenner, de Ralph Gleason, respeitado editor de música do San Francisco Chronicle, e da insatisfação de ambos com a cobertura do cenário musical feita pela imprensa especializada da época. Eles, então, decidiram se unir para criar uma revista que fizesse a cobertura da cena com o profissionalismo do jornalismo cultural, mas com a postura e liberdade da imprensa alternativa. Convidado para fazer parte do projeto com um investimento de US$ 10 mil, Wolman aceitou. Mas como não dispunha do dinheiro, comprometeu-se em fazer as fotos sem remuneração, cobrando apenas os custos com filmes.
Em 9 de novembro de 1967, impressa em papel jornal e trazendo uma foto de John Lennon como soldado (inspirada de uma cena do filme Que Delícia de Guerra), chegava às bancas o primeiro número da Rolling Stone. Nomes ilustres do jornalismo cultural (Hunter Thompson, Greil Marcus, Tim Cahill, Lester Bangs, Jon Landau, Nick Tosches, Joe Eszterhas e o cartunista Ralph Steadman, entre muitos outros) deram fôlego à publicação.
Mas o livro que chega agora às livrarias é trabalho de Wolman e suas imagens. Há fotos icônicas de bandas e músicos, como The Who, Jimi Hendrix, James Brown, Iggy and The Stooges, flagrados em pleno êxtase de apresentações ao vivo, mas também na intimidade dos camarins, estúdios e até de suas casas. Miles Davis, por exemplo, foi clicado em vários momentos: em casa, ao lado de Betty Davis, com quem foi casado e, depois, no ginásio, treinando os movimentos de sua outra paixão: o boxe.
Pauta sugerida pelo próprio Wolman, a reportagem sobre as groupies acabou ganhando toda uma edição, virou item de colecionador e mereceu um capítulo do livro. Parte da mitologia do rock’n’roll way of life, tão importante quanto destruir quartos de hotéis, as moças que seguiam as bandas eram muitas vezes descritas como um tipo de “Maria Guitarra”. Também fotógrafo de moda, Wolman viu nas meninas uma subcultura do chique, como descreve. Dando continuidade à parceria entre a editora brasileira Madras e a britânica Omnibus Press, especializada em música, Os Anos da Rolling Stone inscreve-se como registro de um tempo em que se chegou a acreditar na possibilidade das utopias.
No Brasil, a Rolling Stone surgiu em novembro de 1971, sob a direção de Luiz Carlos Maciel, e trazia na capa Gal Costa, em crítica do show FA-TAL. Em menos de dois anos, foram publicadas 36 edições com o que havia de melhor na cena underground nacional e internacional em matérias sobre comportamento, lançamento de discos, livros, peças de teatro shows, etc.
Mas os royalties nunca foram pagos à editora americana, a ponto de a redação-sede parar de mandar material para o Brasil e a edição nacional começar a ser impressa com um sacana “pirata” abaixo do logo. Pressionada por graves problemas financeiros, a publicação foi cancelada em 1973. A atual publicação nacional circula desde 2006 e é da Editora Spring.
Deixe um comentário