Um caso suspeito de transmissão do vírus causador do ebola por relação sexual foi confirmado na Libéria, na África Ocidental. O vírus sobreviveu 9 meses no sêmen de um homem, mesmo após não haver a presença do agente na corrente sanguínea e ele ter sido declarado livre da doença. O trabalho com a descrição do caso foi publicado na última edição do New England Journal of Medicine e foi possível com a análise comparativa do genoma dos vírus envolvidos na contaminação.
Para confirmar o caso, os pesquisadores analisaram amostras de sangue de um paciente do sexo feminino que testou positivo para o ebola em março de 2015, quando não houve novos casos documentados por cerca de 30 dias na região. Ela não sobreviveu. Antes de sua morte, porém, a mulher relatou ter tido relações sexuais recentes com um parceiro sobrevivente da doença, mas que estava livre do ebola desde outubro de 2014.
Com o objetivo de analisar se houve transmissão por essa relação, os pesquisadores obtiveram consentimento para testar o sêmen do parceiro da paciente. Apesar de terem encontrado a presença do vírus do ebola, os cientistas perceberam que o RNA (presença do material genético, responsável pela transmissão) estava baixo – esse teste, portanto, não foi suficiente para declarar que houve transmissão direta entre os dois.
Em uma segunda etapa, foi feita uma análise do genoma dos vírus encontrados no sêmen do homem e a transmissão foi confirmada. Para isso, os pesquisadores compararam o genoma dos dois vírus encontrados (no homem e na mulher) e viram que o material genético possuía similaridades que apontavam para uma transmissão direta.
Embora pesquisadores já soubessem que pode haver traços do vírus no sêmen, o trabalho confirmou que o ebola pode ser transmitido via relação sexual e também mostrou que o vírus é capaz de sobreviver no sêmen do homem infectado por mais de 179 dias, mesmo após o paciente ter sido declarado livre da doença.
Com isso, tanto o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos) como a Organização Mundial de Saúde (OMS) alteraram as suas recomendações para pacientes que tiveram contato com o vírus.
Antes, a OMS recomendava o uso de preservativos por até três meses após recuperação. Em face do estudo, no entanto; agora, o órgão recomenda que o semen seja testado para verificar a presença do vírus após três meses. Mesmo que o resultado seja negativo, será necessário repetir o teste um mês depois até que se tenha dois testes seguidos negativados. O preservativo deve ser usado por seis meses.
Sobrevivência do vírus no corpo e locais com ‘menos defesa’
Uma hipótese para explicar a presença do vírus do ebola nos testículos e no sêmen, mesmo após o paciente ter sido declarado livre do ebola, é que esses locais possuem menos ação do sistema imunológico. Outros lugares do organismo com potencial para a mesma “resistência imunológica” são o útero (sob gravidez), o olho e o Sistema Nervoso Central.
A ação do sistema imune é limitada nesses locais para prevenir danos aos tecidos nessas regiões, consideradas mais sensíveis. Os vírus sobreviveram porque não sofreram a mesma pressão das células de defesa e foram protegidos da ação das drogas que combateram a infecção.
E agora?
Atualmente, há mais de 8.000 homens sobreviventes do ebola na África que irão precisar de educação apropriada para que novas infecções sejam controladas. As mãos devem ser lavadas após qualquer contato físico com o sêmen e relações sexuais devem ser evitadas.
O vírus ebola provoca febre hemorrágica grave em humanos e primatas não-humanos, com altas taxas de mortalidade. A doença continua a surgir em novas localizações geográficas, incluindo a África Ocidental, o local da maior surto registrado até o momento. Mais de 28.000 casos foram confirmados e 11.000 mortes pela doença foram relatadas. Os dados são da Organização Mundial de Saúde.
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