Vivendo e aprendendo. E ensinando

O futebol sempre foi uma boa metáfora para a vida, e a derrota do Santos para o Barcelona, em Yokohama, no Japão, em 18 de dezembro, é exemplar. Após o jogo em que os espanhóis ficaram com a bola nos pés por mais de 70% do tempo e arrasaram o time santista por 4 x 0, duas manifestações, uma do craque santista Neymar e outra do técnico do Barcelona, Josep Guardiola, provocam reflexões. Pep Guardiola disse que pede para seu time jogar como seus pais diziam que jogávamos nós, brasileiros. Neymar admite que toma como lição o que viveu lá no Japão.

Temos, portanto, o que aprender, e muito, mas também bastante a ensinar. E aqui me permito ignorar qualquer tipo de ironia nas palavras do técnico do Barça.
Isso posto, pedimos a alguns ilustres leitores da Brasileiros para que se manifestassem sobre o assunto. A seguir, o que nos chegou e que repasso como uma espécie de resoluções para o Ano Novo:

“Quatro coisas que o brasileiro precisa aprender:
1. Jogar futebol. No caso, não é aprender, é reaprender.
2. Não parar em cima da faixa e não furar o sinal vermelho.
3. Desligar o celular nos restaurantes.
4. Vender a marca Brasil.
Quatro coisas que o brasileiro pode ensinar:
1. As vantagens da miscigenação, que democratizou a beleza e o talento.
2. A Língua Portuguesa.
3. A baixa gastronomia brasileira, que é tão boa quanto o “comer de tapas” espanhol.
4. Criar publicidade que vende produtos, constrói marcas e se transforma em cultura popular.”
Washington Olivetto, publicitário

“Neymar se equivocou. O que o Barcelona ensinou foi como desenvolver um projeto esportivo. Mais profissionalismo e menos cartolagem.”
Rubens Barbosa, ex-embaixador e autor do livro
O Dissenso de Washington

“A aprender:
1. Que educação é valor, e não apenas uma ferramenta para conseguir emprego.
2. Que somos responsáveis pelas próprias mazelas, e não alguma força externa.
3. Que seria muito bom se cada brasileiro tivesse um voto que valesse a mesma coisa em cada Estado da Federação.
4. Que nossos políticos são, hoje, a nossa cara.
A ensinar:
1. Que a coexistência de comunidades religiosas e étnicas é possível.
2. Que cordialidade é um traço de caráter.
3. Que otimismo ajuda.
4. Que não há que se temer um sorriso.”
William Waack, jornalista

“Lições ao mundo:
Inclusão social, tolerância e alegria de viver.
Lições a aprender:
Educação como base de desenvolvimento sustentado.”
Luisa Strina, galerista

“São muitos os avanços empreendidos pelo Brasil nos últimos 30 anos. Sobretudo, consolidamos a democracia e isso é muito importante. Quem viveu a ditadura nas décadas de 1960 e 70 sabe bem o valor que a democracia tem. Mesmo que não tenha sido de maneira perfeita, o País parece ter tomado o rumo certo. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso soube consolidar as instituições, algo que não foi fácil, depois de uma longa ditadura, onde as instituições estavam fragmentadas e inertes. Depois, o governo Lula foi mais voltado para o povo, ao combate à fome e à inclusão social. Embora pareçam adversários, Lula deu continuidade a algumas pautas de seu antecessor. Em muitos aspectos, ambos olharam na mesma direção. Esse projeto de inclusão social ainda vem se consolidando, mas ainda há muito a ser feito. Essa é uma grande conquista, pois não é qualquer país com o tamanho do Brasil que conseguiria tamanho avanço em tão pouco tempo. Acho que isso tem a ver um pouco com essa vocação que o País tem de conviver com a diversidade. Com todos os preconceitos que ainda existem, soubemos incluir negros, muçulmanos, japoneses, caipiras, nordestinos e esse é um dos maiores valores do Brasil. Algo que tem a ver com a alegria, a criatividade e o otimismo do brasileiro, que tem uma impressionante capacidade de encontrar saídas, ver soluções em problemas ou diante de uma dor encontrar uma alegria.
Mas ainda temos muito a aprender e desafios urgentes. Um deles é a batalha contra a corrupção. Uma irresponsabilidade diante do coletivo. Um mal que acomete o Brasil e precisa ser extirpado. Outro ponto que o Brasil ainda não conseguiu solucionar é que o País ainda não foi capaz de fazer um projeto sério em educação. A falta de recursos é a velha justificativa, mas não falta dinheiro, o que faltam são bons projetos. Um projeto de Educação tem de ser sistêmico e não vai ser desenvolvido em um ou dois anos, tem de ser duradouro, com um estudo dos recursos necessários e estabelecimento de prioridades. Em uma sociedade do conhecimento, a educação é fundamental. É claro que temos carências na Saúde e em outras áreas, mas é o combate da corrupção e a educação que garantirá a manutenção desses avanços, até aqui, consolidados. A recente derrota do Santos no Mundial é um belo exemplo: não adianta ter talento em excesso se não tivermos planejamento.”
Professora Lucillia Bechara Sanchez, diretora do Colégio Vera Cruz

“O Brasil se destaca em inúmeros aspectos, mas o que mais me chama a atenção, olhando para os últimos 30 anos, é a transição pacífica da ditadura para a democracia, que é um exemplo para o mundo. Outro ponto de destaque é a economia. Depois de anos de políticas econômicas sólidas, o Brasil figura entre as maiores economias globais, levando a uma notável melhora na qualidade de vida de milhões de brasileiros.”
William Popp, cônsul-geral interino do consulado dos EUA em São Paulo

“Nos últimos 30 anos, o País passou por grandes transformações sociais e políticas. Consolidou um novo período democrático e avançou muito economicamente. Vou chover no molhado, mas creio que uma das coisas mais importantes para o Brasil continuar crescendo é a educação. É preciso investir em uma educação mais voltada para a realidade que o mundo atual nos impõe. O ensino no Brasil é muito tradicional e teórico. Veja o exemplo da Índia: eles focaram o ensino na tecnologia de informação e os jovens indianos sabem que, para poder crescer profissionalmente, precisam estudar computação, desenvolvimento de softwares, ter familiaridade com essas áreas. Esse é um exemplo pontual de mudança de paradigmas, que rendeu resultados muito positivos para o país. O Brasil vive uma fase ótima, mas ainda depende majoritariamente da exportação de commodities. Uma grande demanda global que continuará existindo no futuro, mas o que falta ao País é uma indústria voltada às inovações tecnológicas. As indústrias brasileiras sempre foram voltadas ao mercado interno e o País se acomodou. Todos os países hoje são obrigados a inovar e avançar tecnologicamente e só essa transformação do nosso modelo de educação será capaz de tornar o País mais competitivo no mercado internacional. Vivemos uma estagnação tecnológica no Brasil há um bom tempo e, quando somos movidos por desafios, criamos metas, uma maneira objetiva de conquistar transformações. Podemos aprender com as empresas asiáticas, especialmente as sul-coreanas, que definem metas e as cumprem. É preciso impor essa nova mentalidade para consolidarmos as conquistas do País e almejar patamares ainda mais altos.”
Dr. Sung Ho Joo, médico e membro do Conselho Consultivo para a Unificação Nacional da Coreia, Seção Brasileira

“O Brasil é exemplar e admirado. Na minha área, a gastronômica, somos vanguarda e temos, inclusive, restaurantes entre os 50 melhores do mundo. Oferecemos uma linha de iguarias e produtos únicos: peixes e frutos da Amazônia que hoje integram cardápios internacionais, queijo da Serra da Canastra, do Salitre, pimentas banivas, mel Xingu e nossas desejadas cachaças. Mas ainda nos resta um ‘quê’ de colonizados. Olhamos para fora sem dar o verdadeiro valor a nossas riquezas. Adoramos ser maltratados em um bistrô parisiense e aqui exigimos maitre, manobrista e hostess. Não comemos queijo mineiro, o do cerrado, porque é feito com leite cru e importamos franceses e portugueses.”
Ana Maria Massochi, argentina, radicada no Brasil há mais de 30 anos. Dona dos restaurantes Martin Fierro e La Frontera

Em nome da Brasileiros, acrescento às opiniões acima que temos de aprender a sermos mais educados, menos predadores, mais solidários. Respeitar as diferenças. Por outro lado, os últimos anos nos mostram que temos muito a ensinar em termos de efetiva e eficiente busca da justiça social com distribuição de renda. E nosso crescente protagonismo no cenário internacional prova os acertos do gerenciamento da nossa política e, principalmente, da nossa economia.
Um grande 2012 para todos nós.


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