Elas precisam correr

“Pesquisas e estatísticas comprovam: as mulheres têm menor incidência de infarto que os homens. Mas, antes da menopausa. Quinze a vinte anos após o fim definitivo do ciclo menstrual, os índices equivalem-se.

Se levarmos em consideração que a expectativa de vida da mulher está aumentando cada vez mais – no Brasil, hoje, ela é de 78 anos, sete a mais que a dos homens -, no final da vida, período em que ela teria a vantagem de prolongar a existência, estará mais exposta a chances de um infarto. Daí a necessidade de melhorar as medidas preventivas e aplicá-las.

Uma vez que os riscos são maiores após a menopausa, é necessário entrar na questão da reposição hormonal. Recomenda-se o tratamento para melhorar os sintomas críticos, como atrofia da mucosa vaginal, ondas súbitas de calor e uma certa proteção com relação a osteopenia e osteoporose. Especificamente nesses casos, a eficácia está comprovada. Mas é fundamental ressaltar que ainda não há evidência científica de que a reposição hormonal deva ser administrada para reduzir o risco cardiovascular.

Em um passado recente, acreditou-se que esse tratamento poderia conferir os mesmos benefícios da secreção hormonal – produzida naturalmente pela mulher antes da menopausa. Mas pesquisas confirmaram o contrário: o hormônio exógeno, administrado sob a forma de comprimidos ou emplastro, aumenta o risco cardiovascular e a expõe a maior chance de infarto ou outras complicações cardiovasculares.

Outro dado fundamental é que mais de 90% dos casos de infarto estão ligados ao estilo de vida. Os fatores de risco são iguais para ambos os sexos, mas alguns têm impacto maior sobre as mulheres. O sedentarismo, a hipertensão arterial e o diabetes são mais nocivos para elas. Outro fator de maior mortalidade – comprovado em pesquisa recente – é o fato de muitas mulheres procurarem socorro com mais vagar que os homens, quando suspeitam estar tendo um infarto. Uma das hipóteses é o comportamento feminino, de se preocupar em primeiro lugar com o filho, depois com o marido e com o trabalho. Na lista de prioridades, a própria saúde estaria na quarta posição.

Há décadas, a mulher entrou no mercado de trabalho e, além de ser mãe, dona de casa e esposa, passou a enfrentar grandes desafios profissionais. Essas novas contingências representaram um estresse adicional, mas é muito difícil mensurar e relacionar esses fatores aos riscos de acidentes cardiovasculares.

Todos esses fatores parecem criar uma espécie de conspiração das doenças cardiovasculares contra o sexo feminino, mas a boa notícia é que existe uma contrapartida: os benefícios das atitudes que fazem bem para o coração são também muito mais eficientes nas mulheres. A atividade física – com frequência de três a seis vezes por semana -, no caso da mulher, resulta em benefício cardiovascular muito mais acentuado e poderoso.

Controle de dieta, atividades físicas, um estilo de vida saudável e priorizar atitudes preventivas para a saúde são fundamentais. O Brasil detém, hoje, uma das maiores incidências de morte por AVC (acidente vascular cerebral). Até pouco tempo, perdia-se apenas para a Hungria, em incidência no sexo feminino. A maioria desses AVCs está intimamente ligada à hipertensão arterial. No Brasil, hoje, há estimativas de que 80% das mulheres, depois da menopausa, têm pressão alta.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia tem um site (www.cardiol.br), com recomendações sobre um estilo de vida saudável. Estamos vivendo mais, mas é preciso viver com saúde.”


*Doutor em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e editor-chefe da Revista da Associação Médica Brasileira

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