Elba Ramalho faz belo show em Olinda, diz que aborto é assassinato e fala sobre Luiz Gonzaga

Foto reprodução

 

Aos 61 anos, Elba Ramalho é uma potência. E isso ficou muito evidente no belo show realizado pela cantora nesta quarta-feira, dia 23, em Olinda, como parte da 8a Bienal da UNE. Por cerca de uma hora e meia – até às 2h da madrugada –, Elba dançou e pulou sem parar, homenageou Luiz Gonzaga, cantou de Alceu Valença a Chico Science e, sim, comprou briga com algumas manifestantes da plateia. Concorde-se ou não com os motivos, Elba mostrou que não brinca em campo.

Já conhecida por sua posição contra o aborto, Elba se irritou com algumas mulheres que carregavam faixas e gritavam a favor da legalização. “O corpo pertence a você, mulher. Mas o neném não, ele pertence a Deus e a sociedade. Então deixa nascer!”, disse a cantora. E concluiu, com frase um tanto surpreendente para alguém que já admitiu ter feito um aborto décadas atrás: “Qual é a diferença entre você matar uma pessoa com um tiro e você matar um bebê que está feito na sua barriga? Nenhuma, o assassinato é o mesmo. Só muda a ação, mas você é um criminoso do mesmo jeito. Eu defendo a vida!”.

Polêmicas à parte, Elba realizou um grande show e empolgou uma multidão em Olinda. Em entrevista para a Brasileiros antes da apresentação, a cantora falou sobre seu mestre, Luiz Gonzaga (que teria completado 100 anos em dezembro) e sobre sua identificação com o movimento estudantil. “Me sinto meio filha do Gonzaga. O pouco que eu convivi foi muito, e ele confiava muito em mim”. Leia a íntegra abaixo:

Entre tantas músicas geniais de Luiz Gonzaga, como escolher o repertório para um show que homenageia o Rei do Baião? 

Eu vou misturar, vou tocar muito Gonzaga, mas também um pouco de Elba e outras coisas. Porque acho que Gonzaga é a casa, é o pai, mas tem a filiação toda, de muitos artistas que são história da música nordestina. Alceu Valença, Dominguinhos, todos nós somos filhos dele, a continuação daquilo que ele semeou. Então homenageio todos, de um modo geral.

Parece superdifícil escolher as músicas do Gonzaga, mas, ao mesmo tempo, eu tenho muita intimidade com sua obra, o que facilita para cantar as coisas dele. Fica mais simples, apesar de ele ser bem profundo…

Vemos aqui milhares de estudantes que nem eram nascidos quando ele morreu (1989), e mesmo assim conhecem todas as músicas. A obra do Gonzaga vai ser sempre moderna?

Moderníssima, atualíssima, extremamente bem acabada. Ninguém pode cantar Gonzaga e alterar o que ele já fez, há 40 ou 60 anos atrás. Isso mostra que é um artista grandioso. E tem uma enorme sensibilidade. Porque não é fácil nascer no sertão, como eu nasci, e sair, viver, e de repente estar cantando na China. É uma vitória. É preciso ter muita raça e coragem para sobreviver a tantas adversidades e se firmar em um país como o Brasil, que é um país híbrido, múltiplo, cheio de vertentes musicais. E Gonzaga conseguiu; é um exemplo de força e determinação.

No ano do centenário, a gente tende a quase mitificar  o Gonzaga, naturalmente. Mas como ele era no dia a dia? No trato pessoal…

Ele era simplíssimo e muito engraçado. Já estaria aqui falando: ‘Elba, pare de falar besteira!’. Fazendo piadas…

Tranquilo ou bravo?

Para mim tranquilo, mas acho que ele tinha uma personalidade forte. Devia ter seus opostos, seus momentos… Mas no convívio com a gente ele era engraçado e animado. Não tinha tempo ruim.

Me sinto meio filha dele. O pouco que eu convivi foi muito, e ele confiava muito em mim. E eu fico sempre me sentindo assim: “Olha, seu Luiz, eu estou aqui levando adiante o que você pediu.”

O tema da Bienal da UNE é “A Volta da Asa Branca”, se referindo ao movimento das pessoas que hoje voltam para o Nordeste, ao invés de deixá-lo em busca de uma vida melhor. Como você vê esse movimento? A vida melhorou no Nordeste?

Acho que “A Volta da Asa Branca” representa a esperança, que nunca deve-se perder. Porque quando o homem abaixa a cabeça e deixa perder a esperança, acho que Deus abaixa a cabeça no céu e deixa perder o homem. E o nordestino sabe confiar. Sempre viveu debaixo de adversidades, da seca, da fome, da indiferença política. Acho que a gente vive um mal momento da seca, e continua vivendo com a expectativa de uma solução entre os políticos, que parece que nunca chega. Mas esperança, enquanto a gente viver, a gente vai ter.

E você se sente identificada com a UNE de algum jeito? Com o movimento estudantil…

Sinto, porque eu fui universitária, e fui presidente de diretório. Fui a primeira mulher na Paraíba que presidiu o diretório universitário da faculdade. Eu tinha uma liderança grande. Também fui ativista política, e vivi todos esses sonhos, essas ansiedades que os estudantes vivem. É um momento muito importante de nossas vidas, quando estamos estudando, aprendendo, construindo, tomando consciência de cidadania. E eu tenho quatro filhos. Um acabou de se formar, então eu sei de perto o que é ser estudante.


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