Caros, lamentável a entrevista de John Allen Jr. publicada hoje pelo jornal Folha de S. Paulo, no aniversário de cinco anos de pontificado do Bento XVI. O vaticanista americano, que escreveu uma biografia do próprio Ratzinger, descreve como “estapafúrdia” a crise atual, pois “O homem que mais combateu os abusos por sacerdotes é agora o rosto da inoperância da igreja ante os crimes”. Allen ainda vai mais longe ao dizer que o problema está na “Completa inépcia do Vaticano em relação à comunicação”. Inacreditável alguém declarar isso. O que se evidenciou mais recentemente foi a incapacidade do Vaticano de varrer para debaixo do tapete aquilo que os cientistas britânicos Richard Dawkins e Christopher Hitchens definem corretamente como um crime contra a humanidade: a postura da igreja de negar e abafar um fenômeno de delitos sistemáticos e continuados perpetrados por seus sacerdotes (de todos os escalões) durante muitas décadas. O próprio Papa recebeu denuncias, enviadas por um arcebispo americano, sobre o padre que abusava de crianças surdas, e se calou, esse fato derruba qualquer tentativa de aliviar sua responsabilidade.
Quando falo em celibato eu sempre faço questão de apontar para as ramificações do cristianismo nas quais ele já não é mais adotado há séculos, como a Anglicana e Luterana, mas então estou falando de uma questão interna da Igreja, de seu funcionamento, de sua doutrina. Quanto a abafar os crimes de seus representantes mundo afora, e por tanto tempo, aí concordo plenamente com os cientistas britânicos. Acho delírio falar em prisão do Papa ao chegar à Inglaterra, como proposto por eles, o Vaticano é um estado autônomo sim, todos os países do mundo reconhecem esse fato há décadas. Vários papas estiveram à frente da Santa Sé desde que o Tratado de Latrão o tornou independente, portanto o Papa é chefe de estado sim. Mas isso só obriga a que haja antes uma investigação conduzida pelos tribunais internacionais para a apuração dos delitos, e a responsabilidade por esses, mesmo a do próprio Papa, agora e quando ainda cardeal. Afinal, não foi o próprio Jesus Cristo que disse que “Só a verdade o libertarás”?
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