Elegâncias e Deselegâncias

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O Brasil não se enquadra na categoria de república de bananas. O mimo é termo pejorativo que define um País que depende de um só produto de exportação, cuja classe trabalhadora é explorada e brutalmente empobrecida, que vive sob um governo repressor que presta vassalagem a outro. Bem, estes não somos nós. E faz tempo que não. Nada contra a fruta, saudável para quem faz esporte, previne câimbras e agrega cálcio. Em um chapéu de Carmen Miranda usado para simbolizar o País, talvez incomode um pouco. Mas é só folclore. A foto aqui da fruta pintada em uma parede alemã fez parte do projeto Arte na Rua, paralelo à Feira do Livro de Frankfurt, onde o Brasil foi homenageado.

No discurso de abertura da Feira, o ministro do Exterior da Alemanha, Guido Westerwelle, citou as boas relações entre os dois países e falou também no escritor alemão Thomas Mann, autor de Os Buddenbrooks (1901) e vencedor do Nobel de Literatura em 1929.

A mãe de Mann, Julia da Silva Bruhns, “era brasileira e veio da pequena cidade portuária de Paraty, sul do Rio”, disse o chanceler em seu discurso de abertura.

“O Brasil produziu autores de categoria internacional – escritores como Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector são exemplos finos”, fez questão de destacar. Acrescentou: “E Paulo Coelho é um dos escritores mais vendidos da América Latina”. Elegante, o chanceler alemão, e nem tanto o nosso best-seller, que se recusou a comparecer ao evento. Na Feira, só os livros e as fotos de Paulo Coelho. Também pouco elegante o escritor Luiz Ruffato, encarregado de fazer o discurso de abertura. Ele causou espanto na plateia de quase duas mil pessoas, entre elas o escritor Ziraldo, que passou mal, literalmente, ao ouvir as críticas desenfreadas ao Brasil feitas por Ruffato. Há quem diga que elegância não tem muita importância, mas o discurso de Ruffato se não careceu muito de verdades, pecou, e muito, pela oportunidade.

E, diga-se, que contra as nossas mazelas há de se reclamar e, mais que isso, há de se trabalhar. Mas mazelas, quem não as têm? Não se trata de competição, nem de Síndrome de Poliana. Mas o Brasil não detém o direito autoral do preconceito e nem dos extermínios e dos genocídios. E, cada vez mais, aqui se trabalha e se trabalhará contra eles e contra suas repetições. Que teimam em acontecer. No mundo. Em 1933, portanto 80 anos agora, o Partido Nacional Socialista assumiu o poder na Alemanha. Quando em 1945 a turma de Hitler foi embora, escorraçada, deixou um saldo de 200 mil judeus mortos na Alemanha e mais seis milhões de judeus mortos nos países que ocuparam.

Os americanos, que ajudaram a bater nos nazistas, não têm por que posar de heróis. Eles já haviam acabado com os índios de seu país e de maneira épica, grandiloquente. E ainda faturaram em cima disso com seus filmes de cowboy. Lá não tem filme de índio.

Uma visita à Topografia do Terror, em Berlim, um memorial montado nos quarteirões onde funcionaram a SS, a Gestapo, a SA e toda a cúpula do poder exterminador alemão daquela época, nos faz refletir amarga, pesadamente. Apesar de tudo, o ser humano continuou e continua insensato. Haja vista África, Oriente Médio, Argentina, Chile, Brasil, Estados Unidos e por aí foi.

Seria deselegante jogar na cara de nossos anfitriões todas as suas mazelas. Mas não é nada menos deselegante esculhambar com o nosso quintal, com as nossas coisas, na casa dos outros. Como se fôssemos uma republiqueta de bananas.


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