Intermináveis debates no rádio, na televisão e na internet, enormes entrevistas em jornais e revistas, um balaio de horas de programas políticos no horário gratuito, candidatos percorrendo o país de norte a sul, enxurradas de matérias e comentários sobre as campanhas presidenciais na blogosfera – nada, até agora, foi capaz de levar a eleição de 2010 às ruas.
Nos lugares que frequento, por onde circula muita gente, na feira-livre e na padaria, no boteco e no banco, na farmácia e no supermercado, na casa de parentes e amigos, dificilmente encontro alguém discutindo o assunto.
Raros são os sinais e os sons a nos lembrar que estamos a apenas 44 dias das eleições. Esta semana, apareceram no meu bairro os primeiros carros de som e uma ou outra moça distribuindo propaganda dos candidatos nas esquinas, mas ninguém lhes dá bola. Nada de bandeiras dos partidos, adesivos de candidatos nos vidros dos carros, discussões acaloradas de defensores de um ou outro candidato.
Esta parece ser a campanha eleitoral mais gelada de quantas já acompanhei na vida, mesmo na época em que não se votava para presidente da República e governador durante a ditadura militar.
Só o que ainda gera algum calor são as pesquisas, agora divulgadas quase todos os dias, assim mesmo apenas entre jornalistas, marqueteiros, comentaristas na blogosfera e os candidatos, naturalmente.
Qual será o motivo de tanto desinteresse? Alguns colegas citam as rígidas regras da Justiça Eleitoral que proíbe quase tudo nas campanhas, mas não acredito que só isso possa explicar o fenômeno – até porque, nós não somos muito dados a respeitar regras em outras áreas.
Tudo bem que as eleições passaram a fazer parte da rotina democrática depois que reconquistamos o direito de escolher o presidente da República, em 1989. Já estamos, afinal, na sexta eleição presidencial após a redemocratização do país, a primeira sem o nome de Lula na urna eletrônica.
Mas nem mesmo nos países nórdicos, com democracias muito mais antigas do que a nossa, vi tamanha frieza a poucas semanas das eleições. Ainda não tivemos nenhum grande comício de qualquer candidato que pudesse ao menos lembrar de longe a participação popular que vimos em anos anteriores.
A agenda dos principais candidatos segue sempre a mesma rotina nas visitas às cidades: caminhada por alguma rua central, café e pastel num boteco ou padaria, abraços, beijos, crianças no colo, entrevista às rádios locais. Fora isso, participam apenas de encontros fechados com representantes de setores representativos da sociedade. É tudo muito burocrático.
Contribui também para este aparente desinteresse o fato de que a maioria das eleições para os governos estaduais e mesmo a disputa presidencial possam ser decididos já no primeiro turno, segundo as últimas pesquisas. O esperado clima de Fla-Flu entre petistas e tucanos acabou não acontecendo, pelo menos até agora.
Se os caros leitores do Balaio encontrarem outras razões para explicar o que está acontecendo, ou melhor, o que não está acontecendo nesta campanha eleitoral, fico muito grato.
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