Meus caros, Elizabeth Bishop, considerada uma das mais importantes poetisas norte-americanas do século XX, está de volta a São Paulo, vivida no teatro pela maravilhosa atriz Regina Braga. A peça Um Porto Para Elizabeth Bishop, de Marta Góes, que fez sucesso há dez anos, está novamente em cartaz, no Teatro Eva Herz, e deve encantar a todos os públicos. Ganhadora do Prêmio Pulitzer em 1956, Bishop morou no Brasil por cerca de 15 anos, de 1951 a 1966, e aqui viveu uma intensa relação amorosa com a arquiteta Lota de Macedo Soares. Em uma época em que mulheres divorciadas caíam em imediato ostracismo, e sexo era um tabu raramente mencionado em conversas sociais, uniões lésbicas não eram sequer comentadas, senão muito à boca pequena. Isso não era exatamente um problema para Lota, nascida em um clã poderoso, que se comportava de forma bastante masculina, e dirigia seu Jaguar vermelho em alta velocidade pelas ruas da cidade. Ela chamaria muita atenção mesmo hoje, seus retratos mostram isso.
As duas moraram em Petrópolis, onde eram mencionadas como “aquelas mulheres”, e circularam pelo Rio de Janeiro e Ouro Preto, frequentando um meio social onde sua relação era aceita. Eram amigas de Carlos Lacerda e Roberto Burle Marx, e Bishop chegou a traduzir os poemas de João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade. Em suas cartas a amigos, e em muitos de seus poemas, encontramos relatos de um Brasil que passou pelo suicídio de Getulio Vargas e pela revolução de 1964, mas que também viveu os anos dourados da bossa nova, de Juscelino, da construção de Brasília, e de um Rio de Janeiro que se valorizava, com obras como a construção do aterro do Flamengo, cuja execução do projeto foi entregue a Lota pelo então governador Lacerda. A vida de Bishop será filmada por Bruno Barreto, ainda não se sabe quem será a atriz, apenas parece estar definido que será uma estrangeira, e que a deliciosa Gloria Pires fará o papel de Lota.
Marta Góes mistura seu próprio texto com trechos de cartas e poemas de Bishop, e o faz de forma sutil, relatando em uma única voz o romance e o Brasil em que viviam. Esse foi o pedido de Regina Braga à autora: uma peça que falasse de Brasil. O resultado foi um lindo monólogo, que lhe abre mais uma oportunidade de mostrar ao público a grande atriz que é. Ela domina o palco, transita por sustos, samba, e lágrimas, e emociona a todos. É imperdivel, aqui vai o link com o site do teatro, recomenda-se reservar, ou comprar antes. Abraços do Cavalcanti.
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