Quando se fala em fundamentalismo religioso, o que geralmente nos vem à mente é o 11 de setembro. E, com essa lembrança, uma confusão de rostos de homens com longas barbas utilizando turbantes. Ou seja, caricaturas de Osama Bin Laden, articulador daqueles terríveis atentados – que até hoje não foi encontrado (se é que ele ainda está vivo…).
Mas a questão é que, por causa de atos terroristas como os ocorridos naquele trágico dia, em 2001, a tendência que temos em associar o fundamentalismo religioso ao Oriente Médio e suas respectivas religiões é enorme. Tão grande que muitos chegam a esquecer – ou mesmo desconhecer – que o fundamentalismo está presente em todas as religiões, essa “característica” não é exclusividade dos islâmicos. A maior prova disso é que a Igreja Católica praticou – guardadas as devidas proporções -, com a Santa Inquisição, esse mesmo fundamentalismo. E, apesar de extinta no século XIX, a Inquisição fez escola e deixou uma herdeira. Trata-se da Santa Aliança, o serviço secreto da Igreja Católica, criada em 1566 pelo Papa Pio V. Quem conta, com base em extensa pesquisa, a história dessa organização é o jornalista e escritor espanhol Eric Frattini, no livro A Santa Aliança.
Desde sua origem, a Santa Aliança, sempre liderada por homens de confiança dos papas e “em defesa da fé”, cometeu “vários crimes políticos e de Estado ou simples ‘queimas de arquivos’ de figuras secundárias que interferiam na política do papa vigente e na de Deus no mundo”.
Em quase 450 anos de história, a Santa Aliança – hoje chamada “A Entidade” – serviu a quarenta papas (Bento XVI é o quadragésimo primeiro a se beneficiar de seus serviços) -, e teve sua existência negada por todos eles. Sua presença foi determinante em todos os pontificados, mas coube ao Papa João Paulo II fazer com que a Santa Aliança passasse pelo seu talvez mais significativo período de avanço e modernização, aproximando-se ainda mais de outros serviços de inteligência, como a CIA e o Mossad (serviço secreto israelense). Um exemplo de resultado dessa aproximação aconteceu em 1973, quando, juntos, o Mossad e a Santa Aliança impediram um atentado contra Golda Meir, a então primeira-ministra de Israel. Em contrapartida, e não obstante o processo de beatificação de João Paulo II, em seu pontificado o Vaticano “vendeu armas, financiou ditaduras e golpes de Estado, comandou operações clandestinas”, entre outras coisas.
Longe de ser um livro cujo objetivo é “desconverter” cristãos – como Deus, um Delírio, de Richard Dawkins, ou Deus não é Grande, de Christopher Hitchens -, A Santa Aliança tem o intuito de informar, contar a história dessa organização que defende, de maneiras no mínimo suspeitas, os interesses da Igreja Católica. Não é, para os cristãos, uma leitura, digamos, assim, relaxante, mas graças à boa prosa do autor, o livro se torna agradável – além de ser indispensável para uma melhor compreensão da história da Igreja (e do mundo). Já para os “seguidores” de Dawkins e Hitchens, A Santa Aliança é uma leitura deliciosa.
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