Em nome da ciência?

Uma frase de um personagem do filme Desmundo, de Alain Fresnot, baseado no livro homônimo da escritora Ana Miranda, que resume de certa forma o teor do documentário Segredos da Tribo, de José Padilha: “Ninguém é inocente, muito menos tu”. O que parecia acima de qualquer suspeita, o trabalho desenvolvido por antropólogos americanos e europeus com os índios Ianomami entre as fronteiras da Venezuela e do Brasil, no final dos anos 1960 e toda a década de 1970, é colocado em xeque no documentário do diretor de Tropa de Elite. O assunto já tinha sido levantado pela mídia ao longo dos últimos anos (em livros e documentários), mas Padilha junta todos os personagens da história, dá voz a eles e a seus argumentos. Belo trabalho investigativo que põe por terra algumas “boas” intenções da nossa ciência. (O documentário será exibido pela primeira vez dentro do festival É Tudo Verdade no Espaço Unibanco de Cinema, às 19h deste domingo (11). Os ingressos serão distribuídos uma hora antes começar o filme).
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O boom do documentário musical no Brasil

No país da melhor música do mundo, os documentaristas colocam suas lentes e suas pesquisas para o gênero musical que cresceu tanto nos últimos anos, juntamente com o próprio boom do documentário. Até já temos um festival dedicado ao documentário musical (In-Edit Brasil, que realizou sua segunda edição recentemente em São Paulo). Os títulos são muitos e perpassam a diversidade rítmica da música e dos seus intérpretes em vários dos cenários musicais brasileiros.

Em relação aos nossos sambistas, temos: Paulinho da Viola – Meu Tempo é Hoje, de Isabel Jaguaribe, Cartola, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, Bezerra da Silva – Onde a Coruja Dorme, de Márcia Derraik e Simplício Neto. Sobre o nosso baião, forró e xaxado, o lírico O Homem Que Engarrafava Nuvens, de Lírio Ferreira, uma justa homenagem ao parceiro de Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira. Em relação ao pop rock brasileiro da década de 1980, foram realizados os documentários Herbert de Perto, de Roberto Berliner e Pedro Bronz, e Titãs, A Vida Até Parece uma Festa, de Branco Mello e Oscar Rodrigues. Além do excepcional documentário Nelson Freire, de João Moreira Salles, sobre o virtuoso e genial pianista. Temos também o documentário Dzi Croquettes, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez, sobre um dos grupos mais criativos dos desbundantes anos 1970 (o filme ganhou todos os prêmios do festivais e mostras que participou e deve estrear no segundo semestre deste ano). Perante tantas genialidades musicais, fica a pergunta: Por que, então, o país que teve tantos ritmos, gêneros e grandes intérpretes, tem um cenário musical tão medíocre, em relação ao que os meios de comunicação divulgam? Para responder, um dos nossos melhores pesquisadores do assunto, Zuza Homem de Mello (como já falamos sábado aqui no site, Zuza foi o técnico de som da terceira edição do Festival da Música Popular, na TV Record, em 1967, tema do documentário Uma Noite em 67, de Renato Terra e Ricardo Calil).

Brasileiros – Se pegarmos somente os cantores que participaram daquele festival da Record, em 1967, percebemos o quão rica era a nossa música e os nossos intérpretes. O que aconteceu nas últimas duas décadas para temos tanta porcaria divulgada nos meios de comunicação?
Zuza Homem de Mello – Aí há dois fatores. Primeiro é que essa foi uma geração de compositores privilegiada. Não é qualquer país do mundo, dizendo melhor, não acho que nenhum país do mundo tem o surgimento de talentosos compositores, em uma mesma época. Uma parte de compositores e cantores da nata brasileira surgiram no período relativamente curto, que foi, mais ou menos, de sete anos. Esse é um aspecto, de termos no Brasil uma geração de compositores notáveis, surgindo todos ao mesmo tempo. O outro aspecto é a ausência de interesse da parte dos veículos de comunicação, principalmente o rádio e em seguida a televisão, por essa riqueza que não deixou de existir. Os meios de comunicação voltaram seu interesse para o descartável, para a música descartável e de pouca ou nenhuma valia. Temos ainda bons compositores e cantores fazendo coisas bacanas, mas eles não têm oportunidade de mostrarem seus trabalhos. Temos hoje, infelizmente, uma geração órfã de música de qualidade.

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