A 3ª edição do Paulínia Festival de Cinema no ano passado foi bastante criticada pelos jornalistas que estiveram presentes, muito em função da seleção dos filmes ficcionais em disputa. Dois deles, Dores & Amores e As Doze Estrelas. Mesmo não tendo visto os filmes de ficção, é notória a qualidade dos seus realizadores: o polêmico e fecundo Cláudio Assis, com o filme A Febre do Rato; o ator e, agora, diretor Selton Mello, que já chamou a atenção da crítica com o seu primeiro longa, apresenta a sua segunda empreitada, o filme O Palhaço, no qual também atua; o diretor Nando Olival, que co-dirigiu, com Fernando Meirelles, Domésticas, o Filme, traz agora Os 3. Além desses diretores, que já realizaram seu primeiro longa ficcional, temos André Ristum, com seu primeiro filme, Meu País, e Juliana Rojas e Marco Dutra que dirigiram juntos Trabalhar Cansa, um dos filmes que representaram o Brasil em Cannes neste ano. É ou não é uma lista de respeito? Agora, é ver os filmes e comprovar.
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Além dos seis filmes ficcionais em disputa, a 4ª edição do Paulínia Festival de Cinema traz a lista dos documentários: A Cidade de Imã, de Ronaldo German; A Margem do Xingu, de Damià Puig Auge; Ela Sonhou que Eu Morri, de Matias Bracher Mariani, Ibitipoca, Droba Pra Lá, de Felipe de Barros Scaldini; Uma Longa Viagem, de Lúcia Murat; e o mais aguardado, Rock Brasília – Era de Ouro, de Wladimir Carvalho. Os diretores de documentários deste ano mesclam realizadores experientes, – Wladimir Carvalho e Lúcia Murat -, com marinheiros de primeira viagem. O documentário Rock Brasília – Era de Ouro, o mais comentado e aguardado na roda dos jornalistas que estão cobrindo o festival, mostra a geração de jovens músicos de Brasília, que ajudaram a fazer o rock nacional dos anos 1980: Renato Russo, Capital Inicial, Plebe Rude, Legião Urbana, entre outros. Um dos materiais de arquivo preciosos que o documentário do Wladimir Carvalho traz é o show que o Legião Urbana realizou no Estádio Mané Garrincha em 1988, que infelizmente terminou em grande confusão, com direito a comentários irônicos de Renato Russo para a plateia e muita quebradeira.
Completando a lista dos filmes em disputa da 4ª edição do Paulínia Festival de Cinema, estão os curtas-metragens. Serão 15 filmes a concorrer; 12 deles nacionais e três regionais.
Uma abertura cara de pau
O título acima não uma alusão maledicente ao filme Corações Sujos, de Vicente Amorim, que apesar dos seus problemas (estético, de excesso, de roteiro, etcetc.), tem qualidades (não muitas). Como acontece desde a primeira edição do festival de Paulínia, os organizadores chamam uma dupla de apresentadores para a sessão de abertura. Este ano convidaram os comediantes Leandro Hassum e Marcius Melhem do programa da rede Globo, Os Caras de Pau. Foi uma escolha arriscada que terminou dando certo. Os comediantes fizeram piadas com o prefeito da cidade e sua mulher, com os políticos e o público presente, sobrando até para a apresentadora Xuxa e sua filha, que fez a plateia delirar de rir. Mas voltando ao filme Corações Sujos, com base no livro homônimo de Fernando Morais, ele recupera a história de imigrantes japoneses do interior de São Paulo, que logo após a Segunda Guerra, acreditavam ou eram obrigados a acreditar que o Japão tinha vencido a guerra contra os Estados Unidos. No filme de Amorim, esse material documental do livro de Fernando Morais tem tratamento ficcional, pois o diretor precisava ter uma historinha para narrar seu filme. “O livro de Fernando Morais é fascinante e difícil de ser roteirizado. Quando decidi fazer o filme, sabia que precisava suprimir muitas histórias e arrumar uma história ficcional que contasse aquele episódio que o livro de Fernando Morais recupera”, revelou o diretor à Brasileiros. Essa opção de ter uma linha narrativa para o filme, tirou muito das histórias sobre intolerância, preconceito, racismo que estão presentes no livro. No lugar disso, o diretor optou por contar uma história de amor entre dois imigrantes daquela comunidade, o que tornou o filme agridoce e sem emoção. Há excesso de trilha, assim como grande parte dos filmes americanos, estética que o filme de Vicente Amorim opta. As situações são previsíveis e o filme é bastante burocrático na maneira de filmar e de narrar. Méritos? A escolha de atores japoneses nos papéis principais, uma boa fotografia e cenografia eficiente. Mas o que fica no final é uma história de amor que não cativa e tampouco emociona. O diretor consegue encobrir a essência das histórias do livro de Fernando Morais e isso não é pouco.
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