Em sintonia com o mundo

Durante dez dias, as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro foram contempladas com uma seleção de mais de 70 documentários que buscaram refletir sobre as pessoas, sobre o passado, sobre nossa maneira de viver e compreender os outros. Da insensatez dos conflitos, da intolerância e do preconceito e, principalmente, de como compreendemos e entendemos o mundo a nossa volta. É chegada a hora de conhecermos os documentários vencedores da seleção competitiva de longas e curtas brasileiros e internacionais. Antes de falarmos sobre as nossas apostas, gostaríamos de esclarecer que nem todos os filmes exibidos durante esses dez dias concorrem no festival, já que há outras mostras, além da competitiva. Há, por exemplo, as mostras O Estado das Coisas, Foco Latino-Americano e os Programas Especiais, que nesse ano homenageou o documentarista e fotógrafo Benedito Junqueira Duarte e o cineasta francês Alain Cavalier.

Os filmes exibidos na seleção brasileira competitiva foram: Arquitetos do Poder, de Vicente Ferraz e Alessandra Aldé, O Contestado – Restos Mortais, de Sylvio Back, Eu, o Vinil e o Resto do Mundo, de Lila Rodrigues e Karina Ades, Fora de Campo, de Adirley Queirós, Os Representantes, de Felipe Lacerda, Programa Casé – O que a Gente não Inventa, não Existe, de Estevão Ciavatta e Terra Deu, Terra Come, de Rodrigo Siqueira. Entre os filmes, apenas três têm chances de ganhar: O Contestado – Restos Mortais, Programa Casé – O que a Gente não Inventa, não Existe e Terra Deu, Terra Come, com uma leve vantagem para o documentário de Estevão Ciavatta, porque trouxe um personagem interessante da nossa história, pioneiro como idealizador de programas comerciais no rádio. Além disso, o diretor, de forma inventiva, narrou a história do personagem por materiais de arquivo (imagens e sons), não só do seu personagem, Ademar Casé, mas de trechos de filmes antigos em preto e branco. Outro maneira criativa utilizada pelo diretor foi colocar, em narrativa em off, o próprio Ademar Casé (com uma entrevista para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro).

Uma coincidência favorável para o filme de Estevão é que esse ano, dentro do festival, foi realizada a 10ª Conferência, que trouxe como tema “O Documentário de Arquivo”. E, como utilização de material de arquivo (imagens e sons), ninguém fez melhor do que o filme do Estevão Ciavatta. Mas, não devemos nos esquecer da força do realizador Sylvio Back, não só pela já consagrada contribuição para o documentário, mas pela maneira como usou um recurso não convencional para contar a história da Guerra do Contestado, em seu documentário O Contestado – Restos Mortais. O diretor utilizou 30 médiuns, em transe, para poder contar o episódio sangrento do Contestado. Foi a maneira que o diretor encontrou, esgotados os recursos de imagens e sons de arquivo e das entrevistas, de ser mais fiel ao que se passou naquele insano e complexo episódio de nossa história. Se os jurados forem mais ousados nas escolhas, o documentário Terra Deu, Terra Come, de Rodrigo Siqueira, tem possibilidades de sair com o prêmio de melhor documentário do festival de 2010. A história do Quartel do Indaiá, no interior de Minas Gerais, é rica em humanidades e curiosidades a respeito, não só do nosso passado, mas da nossa compreensão do que é real e ficção. Ao invocar a memória da ancestralidade daquele local, nos depoimentos dos moradores que vivem hoje ali, o diretor nos contempla com uma grande força poética das histórias.

É no compasso de espera que os documentaristas brasileiros de curta-metragem aguardam o resultado de hoje à noite. A maioria dos realizadores que estão na seleção competitiva é estreante no ofício de cineastas, o que já é motivo de sobra de uma carga adicional de adrenalina. Os curtas selecionados na mostra competitiva foram: Acontecências, de Alice Villela e Hifalgo Romero, As Aventuras de Paulo Bruscky, de Gabriel Mascaro, Bar da Estação, de Leo Ayres, Bernnô, de Pedro Gorski, Karl Max Way, de Flávia Guerra e Maurício Osaki, Mãos de Outubro, de Vitor Souza Lima, Querida Mãe, de Patricia Cornils, Se Meu Pai Fosse de Pedra, de Maria Camargo e Xetá, de Fernando Severo.

Karl Max Way e Xetá têm chances de abocanhar algum prêmio. O documentário Karl Max Way tem a sua força concentrada não só no personagem central (Karl), mas na história de outros jovens brasileiros que vão tentar a sorte na América ou na Europa, em busca de dinheiro, para depois voltarem ao Brasil. O documentário Xetá traz uma história pouco conhecida: a colonização do noroeste do Paraná, nos anos 1940, que quase exterminou uma população indígena, os xetás. O diretor encontrou alguns índios que, ainda pequenos, foram entregues a alguma famílias, depois de terem seus pais mortos pelos brancos. De forma simples, o diretor Fernando Severo recupera restos da história e invoca a necessidade de compreendermos e, principalmente, de reconhecermos nosso passado de violência e de injustiças.

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