No domingo (1º), o jornalismo cultural foi discutido no Fórum das Letras, em uma mesa com a participação de João Gabriel de Lima (editor de Bravo!) e Sylvia Colombo (editora do caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo). Foi interessante ver como dois editores da mesma área lidam com o assunto, como o fato de a revista ser mensal e o caderno ser diário interferem ou diferenciam na cobertura de produtos e eventos culturais, por exemplo. E também como a plataforma interfere nos textos (tamanho e conteúdo). A Bravo!, por ser mensal – e por ser revista -, pode fazer matérias mais longas, falar sobre lançamentos não tão recentes. Já o Ilustrada, diário, tem quase que uma obrigação de resenhar lançamentos, pré-estreias de filmes etc. Mas isso não significa que o editor deve se tornar “refém” do mercado, do que é novidade.
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Sobre a extensão dos textos, que nos jornais são mais breves e em algumas revistas são mais longos, ambos concordaram que os leitores têm buscado análises mais longas – ou ao menos não tão curtas, e que isso pode representar uma mudança significativa nas revistas e jornais daqui a alguns anos. Mas Sylvia observou que, por outro lado, não se pode elitizar demais o público leitor, nivelar por cima – ou, melhor dizendo, “por textos longos” -, para não se correr o risco de, além de perder o leitor que prefere textos mais curtos, perder também a objetividade inerente ao jornal diário.
Fernando Morais, talvez o maior biógrafo brasileiro vivo, era esperado para a mesa “Biografia e revelação: o biógrafo em saia justa”, na qual teria a companhia de Guilherme Fiuza (autor de Meu nome não é Johnny, entre outros), mas, “por motivos de força maior”, não pôde comparecer. Paulo César de Araújo, autor da biografia do cantor Roberto Carlos, Roberto Carlos em detalhes, que hoje tem sua venda proibida em livrarias, assumiu a cadeira de Fernando Morais. Infelizmente, a mesa não rendeu o que poderia.
Autores de qualidade, Fiuza e Paulo César poderiam ter feito uma das melhores mesas do Fórum, mas em vez de a conversa girar em torno do assunto proposto, os autores falaram demais sobre suas obras. Fiuza falou sobre seu próximo livro – que será sobre o comediante Bussunda -, e, pasmem, até sobre o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalismo, por conta da pergunta de um espectador. A mediadora Ana Paola Amorim fez o que pôde para tentar colocar a conversa nos trilhos, mas, infelizmente, não conseguiu. É difícil lidar com uma plateia dispersa e com autores que divagam demais.
A mesa seguinte, “Fronteiras entre a ficção e o jornalismo?”, com a presença de João Gabriel de Lima, Cassiano Elek Machado (diretor editorial da editora CosacNaify), João Moreira Salles (um dos idealizadores da revista Piauí) e Arthur Dapieve (jornalista e escritor) foi, sobretudo, sobre jornalismo literário, gênero que muitas vezes é confundido com jornalismo ficcional. João Moreira Salles foi taxativo ao se dirigir a estudantes de jornalismo: “Vocês não vão usar o jornalismo literário [no Brasil]”, “É preciso ter cautela ao se falar de jornalismo literário [aqui], porque é como falar de samba no Japão”. Cassiano perguntou então a Moreira Salles como ele faz para “falar de samba no Japão”, afinal, é o que “a Piauí faz”. Salles explicou que a revista é uma das poucas iniciativas nesta área, e que, apesar do sucesso da revista, ela ainda não consegue ser preenchida inteiramente com jornalistas nacionais, e precisa recorrer a reportagens feitas em outros países para completar as edições.
“A literatura em outras linguagens”, com os escritores Adriana Lunardi, Jorge Díaz (espanhol), e Max Mallman, fechou o domingo com uma discussão que começou morna, sobre a adaptação da literatura para o cinema, mas que terminou com “gosto de quero mais”, quando os autores, mediados pelo escritor Flávio Carneiro, discutiram sobre a importância da TV e sua possível – ou não – influência no mercado editorial, no caso de ser criado, muito hipoteticamente falando, um programa sobre livros num grande canal de TV aberta. Nenhum dos autores viu com bons olhos essa hipótese, optando pela “tese” de que o Brasil não é um país para leitores de livros, ao menos não dos chamados “bons livros”. Adriana Lunardi fez uma afirmação que causou certo desconforto em algumas pessoas da plateia: “Se uma edição [de livro de autor brasileiro] vende três mil exemplares, é para esses três mil que devemos falar”. Chamou o grupo de bons e contumazes leitores de “pequena confraria”, e disse que eles devem ser “mimados” pelos escritores, que, na sua opinião, não devem se preocupar “com os outros leitores”.
Não deixa de ser curioso ver um escritor falando isso e ainda ter o apoio de dois colegas. A arte não deve ter, a priori, como fim, a glória, o público, o dinheiro. Mas, se o autor pode fazer sua obra chegar a um maior número de pessoas, por que não tentar fazer isso? Por que não buscar outros meios, outras saídas que não apenas a de escrever o livro e esperar que a editora faça o restante? Questionamentos que ficam para, quem sabe, o próximo Fórum.
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