Conheci Oscar Niemeyer em 1989 em um almoço oferecido a ele por Lina Bo Bardi, com quem eu trabalhava. Foi um encontro muito especial de dois velhos amigos – Lina e Oscar – que não se viam desde 1964. Ali, falaram muito sobre o Brasil e nossos eternos problemas e pouco sobre arquitetura.
Anos depois, já em 2002, Oscar me ligou e, num longo telefonema, fez muitas perguntas a respeito da arquitetura de museus. Queria saber sobre as dimensões ideais de espaços expositivos, sobre técnicas variadas de iluminação etc. Ao final, ele me pediu um pequeno relatório sobre o que seria um bom programa de necessidades para um museu contemporâneo. De início, achei que fosse um trote de algum amigo, mas não, era ele mesmo, o Oscar. Fiz rapidamente o relatório, enviei por fax e recebi novamente um simpático telefonema de agradecimento.
Alguns dias depois, outro telefonema. Dessa vez, Oscar me convidava para colaborar na transformação de um antigo projeto seu – um grande edifício construído em 1970 para abrigar uma escola – em um museu contemporâneo. Justificou o convite dizendo que queria ter a seu lado o “pessoal de Lina”, que entendia do assunto. Tratava-se do Novo Museu de Curitiba, atualmente Museu Oscar Niemeyer. Aceitei, é claro, e com meu sócio Francisco Fanucci e minha equipe do Brasil Arquitetura, trabalhamos intensamente durante um ano, até a inauguração do museu.
Os encontros com Oscar eram sempre em seu escritório, no Rio, mas ele se deslocou para Curitiba de carro para a inauguração. Nessa relação de trabalho, Oscar foi sempre gentil e amigo, ouvindo e ponderando nossas sugestões, discutindo cada ponto do projeto, com muito respeito profissional. Em um certo momento, ele disse: “bem, vocês cuidam da reforma e adequação do edifício velho, e eu cuido do bloco novo”, hoje conhecido como “olho”, que virou um forte marco de Curitiba. E assim foi. Sou muito grato a ele pela confiança depositada em nós, e pela “amizade acima de tudo”, como sempre dizia.
A importância do arquiteto
Oscar Niemeyer é, acima de tudo, um grande humanista, um militante incansável da justiça social, de um mundo melhor para todos. Claro que, humano que é, não é uma unanimidade. Mas são inquestionáveis sua genialidade, originalidade e peculiaridade. Por ser “tão único” em seu modo de fazer arquitetura, não deixa uma escola, seguidores, como outros arquitetos importantes. E muitos que se arvoram a isso “dão com os burros n’água”.
Oscar é um arquiteto que tem uma obra marcante e tocante para todos os arquitetos, e também para os não arquitetos que tomam conhecimento dela. O que mais me admira em Oscar é sua intuição estrutural, condição ou atributo fundamental para todo bom arquiteto. Também o seu senso de escala para projetar grandes espaços públicos, verdadeiros palácios, é impressionante. Veja o interior do Itamarati, por exemplo.
Obras marcantes
Para mim, o Conjunto da Pampulha, em Belo Horizonte, é a obra máxima de Oscar. A sabedoria na implantação dos edifícios, as formas surpreendentes, o detalhamento no uso dos materiais… É um trabalho primoroso. Há também os Pavilhões do Parque Ibirapuera, com a marquise a conecta-los de modo elegante, muito original, criando um passeio coberto e aberto à vegetação, ora criando grandes espaços, verdadeiros salões, ora caminhos cobertos. E acho genial a rampa do Pavilhão da Bienal, que sempre é a estrela numero um das exposições que ali acontecem, inclusive salvando algumas delas do fracasso.
E o Edifício Copan: uma verdadeira aula de urbanismo. Uma implantação que claramente propõe uma nova lógica de relacionamento urbano para São Paulo, entre edificações e pedestres, mais humana, mais e mais centrada na convivência. Estas, são obras que devem ficar sempre em nossa mirada como bons exemplos a serem seguidos em busca de uma cidade mais democrática e confortável.
Marcelo Carvalho Ferraz é arquiteto, sócio-fundador do escritório Brasil Arquitetura e autor dos livros “Arquitetura Rural na Serra da Mantiqueira” e “Arquitetura Conversável”
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