Foto Divulgação
1967. Eu tinha uns 15 anos e peguei um ônibus, o São Judas/Perdizes, muito usado pelos artistas da Record, como Chico Buarque, que aterrisava em Congonhas, tomava o coletivo e descia na porta do teatro Record, na Consolação, sem ser reconhecido. Havia uma linha que ia “por baixo”, pela rua da Consolação, e outra “por cima”, pela avenida Dr. Arnaldo. Pois esta passava na porta do estúdio da TV Tupi. E lá fui eu assistir ao programa Divino Maravilhoso, com Caetano, Gil, os fantásticos Mutantes, todos eles. O programa começou com a Rita, Arnaldo e Sérgio se esgueirando pelo cenário imitando uns arbustos e atrás destes encontrava-se uma placa que dizia “aqui jaz a Tropicália”. Passei a vida citando isso para justificar que o movimento era autofágico por definição e ninguém acreditava. Pois tem essa cena no filme Tropicália produzido pela Paula Cosenza. E muito mais.
O crucial é que mostra a trajetória da Tropicália. Um grupo de músicos baianos que despertou a atenção de intelectuais (o próprio nome do movimento veio de artes plásticas, de Hélio Oiticica). Temos Zé Celso, Augusto de Campos, Décio Pignatari e Glauber Rocha (que não queria nem saber, mas comentou). Uma ideia surgida na cabeça de Bethania que logo caiu fora. Um segundo momento em que eles viram o assunto principal, o casamento de Caetano, os hippies, o som universal, a TV, a TV gerando a paranoia de Gil com a repressão. E vem a notoriedade que os coloca ao mesmo tempo como inimigos do sistema e inimigos dos inimigos do sistema. Até Tom Zé fala da ousadia de Caetano, um menino que mal havia gravado um disco, berrando a plenos pulmões para a ‘esquerda’ universitária: “Vocês não entendem nada!!!”. Aí, já não havia mais Tropicália. Seguem-se a prisão, o confinamento, o exílio. O filme termina com a volta dos dois – e lá estava eu de novo sob o sol da Bahia, verão de 1972. Assisti ao show Transa no Castro Alves. Macalé, Áureo, Tutty, Moacir, Lanny!
A Tropicália foi mais veloz ainda que os Beatles e tem uma duração e um impacto semelhantes, guardadas as devidas proporções. Foram cinco anos de trabalho para se chegar a esse filme. É para assistir, se emocionar, levar os filhos e os amiguinhos deles e explicar tudo depois. Divino-Maravilhoso! E tudo isso aconteceu aqui no Brasil.
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