Enquanto isso, em Uganda

Meus caros, não sem razão, o mundo inteiro se revoltou com o caso da iraniana condenada à morte por apedrejamento, forma absolutamente cruel, em que até mesmo o tamanho das pedras era calculado, de forma a causar-lhe o maior sofrimento possível. O Brasil, em sua aventura de aproximação com o governo dos aiatolás, chegou a protestar publicamente, e, ao menos até agora, parece que ela foi salva da morte horrorosa que a aguardava, não está certo se vai ou não ser enforcada, o que seria, creiam-me, considerada uma morte menos cruel. Talvez esperem, ainda, que ela agradeça ou que prefira a condenação anterior, não sabemos bem, pois todas as declarações da condenada vêm por vias oficiais, em imagens nas quais não se pode ter sequer a certeza de que seja ela mesma falando. Ao menos o movimento de indignação mundial conseguiu frear essa morte, ficamos felizes com isso, e esperamos que a pena seja comutada de vez, e ela libertada, ou expulsa do Irã. Para mim, seria a melhor solução.

Mas vejam vocês que casos assim são mais comuns do que se pensa, e, principalmente quando envolvem homossexuais, ninguém dá a mínima bola. David Kato foi um militante homossexual de Uganda, cansou de denunciar as perseguições e assassinatos absurdas naquele país. Curiosamente, uma revista local chamada The Roling Stone (nenhuma relação com a maravilhosa revista que temos no Ocidente), instrumento mais rude e brutal das trevas naquele país, publicou seu nome, endereço, e ele foi então encontrado e espancado até a morte. Vi muita repercussão na imprensa europeia, uma gritaria geral, mas tudo muito tarde, Kato já tinha morrido.

O que vai acontecer? Nada. Homossexualidade não é crime naquele país, que vive trevas econômicas e sociais. Centenas de homossexuais também são legalmente enforcados no Irã, todos os anos, bem como em 37 outros países da África e do Oriente Médio. Será que conseguimos manter um painel de denúncias contínuo, alguma forma de aumentar a pressão sobre essas nações, que estão tão longe dos países ocidentais em termos de direitos humanos, quanto da miséria que os assola? Como se lida com uma situação brutal dessas? Minha resposta é a de sempre: manter a boca no trombone, fazer com quem todos saibam. É pavoroso, mas acontece com apoio oficial, e os representantes diplomáticos desses países estão aqui pelo Brasil (e pelo resto do mundo), talvez pudéssemos chegar até eles. Que sejam um canal, oficial ou não, de nossa indignação. Abraços do Cavalcanti.


Comentários

5 respostas para “Enquanto isso, em Uganda”

  1. A crueldade e o desrespeito à dignidade da pessoa humana não podem ter vez. Tem razão, Lourenço. Devemos botar a boca no trombone. Sobretudo nós, enquanto comunicadores, precisamos mesmo fazê-lo, cumprindo na medida do possível nosso papel de motivar a reflexão e as atitudes necessárias, sempre.

  2. Isso sem falar no estupro corretivo, sofrido por muitas lésbicas africanas, Cavalcanti.

    1. Marcela, a vida humana nesses lugares não vael nada. Mata-se por princípio. Não é uma questão de preconceito racial, jamais o seria, brancos agem da mesma maneira, fiz questão do exemplo do Irã. Não tive coragem de abordar o tema da mutilação da genitália de mulheresm, em muitos dos países muçulmanos. Como entender a isso, meu deus?
      Obrigado pelo comentário,
      Cavalcanti

  3. Meu caro, 2011 AD. Ainda não cheguei aos 50 e lembro-me perfeitamente de datilografar minha tese de mestrado numa Olivetti Lettera 32. É impressionante o desenvolvimento tecnológico que alcançamos em tão curto espaço de tempo. Já em termos humanos, continuamos na Idade da Pedra. Beijas.

    1. Lettera 22 – sois vintage. Muitos, ainda ainda cursam o meio acadêmico na base do martelo e do cinzel.
      Abraços do Cavalcanti

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