Enquanto isso no Brasil

ENQUANTO ISSO NO BRASIL

No mês passado, tive uma experiência deliciosa. Fui acompanhar a colheita e as primeiras etapas da produção de um de nossos espumantes lá no Rio Grande do Sul. Depois de algumas horas tomando um belo chá (de cadeira) no aeroporto, por causa do mau tempo em Porto Alegre, minha principal preocupação era com as uvas que, com a chuva na época da colheita, poderiam ficar com maturação e sanidade comprometidas. Após mais duas horas de carro até Bento Gonçalves, fui brindada com um dia sem chuva e uma bela visita às áreas de cultivo da região do Vale dos Vinhedos.

VALE DOS VINHEDOS
Área de cultivo de Bento Gonçalves

BERÇO DAS UVAS

Vale dos Vinhedos é o berço das uvas utilizadas na produção da maioria dos espumantes. Fica situado na Serra Gaúcha e compreende os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul. Nessa região, boa parte da produção fica por conta de Chardonnay e Pinot Noir (para os espumantes), porém conta ainda com a produção de Ancelotta, Gamay, Cabernet Sauvignon e Merlot, entre outras, além da produção de uvas de mesa, que produzem sucos de uva saborosíssimos.

INOVAÇÕES TÉCNICAS E CONCEITUAIS

Além da compreensão geográfica, a cultural é essencial para nos conectarmos com os vinhos brasileiros, feitos em sua maioria por imigrantes italianos. As várias inovações, não só conceituais, mas também tecnológicas, são bastante eficazes para a vitivinicultura – desde uma conscientização para a melhor forma de conduzir os vinhedos, até o investimento altíssimo em maquinário – e mostram que os produtores não estão para brincadeira. Máquinas como a Lazo TPC (que faz um controle de pragas e da sanidade dos vinhedos sem utilização de agrotóxico, e sim por um jato de ar quente nas uvas), tanques inoxidáveis e laboratórios extremamente precisos para as análises de produção fazem com que o panorama se torne cada vez mais profissional e competitivo. Devido ao processo de produção diferenciado do espumante, que muitas vinícolas fazem pelo método tradicional (aquele em que a segunda fermentação ocorre na garrafa), o investimento encarece. Dificuldades climáticas e financeiras à parte, é necessário termos o mínimo de conhecimento em relação aos produtos nacionais, a fim de formarmos parâmetros para comparação com os de outros países.

DIFERENÇA DE QUATRO SÉCULOS

Ao ser questionada sobre a produção de vinhos em terras brasileiras, uma grande produtora de vinhos da Bourgogne, na França, deu uma das respostas mais honestas e brilhantes que já ouvi: “Sim, o Brasil pode fazer bons vinhos, porém o que o difere em relação à Europa, por exemplo, são pelo menos quatro séculos de produção vinícola”. Mesmo assim, estamos avançando, já apresentando vinhos feitos de maneira correta que podem ser bebidos de forma muito prazerosa, e também algumas pequenas boas surpresas. *Graduada em Gastronomia, com especialização em Enogastronomia, e maître-sommelier do restaurante Gero, em São Paulo.

EDIÇÃO 44 – Bebidas


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