Enquanto isso, nos Jardins…

Geraldo Forbes é um cavalheiro de fino trato que poderia, por allure e pedigree, figurar num romance de Jane Austen e naquele The Baronet, o velho rol da nobiliarquia do Reino Unido.

Apesar do sobrenome hierático, sua dinastia nasceu e se robusteceu foi no comércio tropical: exportação de café. Forbes, o sobrenome, traz o antigo aroma de destilarias escocesas e Geraldo não se faz de rogado. Defende com dignidade as cores muito particulares de seu tartan – o xadrez que distingue, no kilt típico, os clãs aristocráticos dos Highlands, família por família.
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Capaz de manter com o melhor enólogo da França uma calorosa discussão a respeito da safra perfeita do Cheval Blanc e do Chateau Angelus, Geraldo Forbes não se acanha de revelar aos amigos, em periódicos, mas sempre generosos saraus em seu casarão da Rua Dinamarca, no Jardim América, os itens de sua genuí-na paixão: a cachaça. Não chega a possuir uma coleção estrepitosa, mas as garrafas que têm, amealhadas pessoalmente, com pachorra de pesquisador e fôlego de expedicionário, em recônditas destilarias, primam muito mais pela surpresa e pelo ineditismo do que pelo reconhecimento óbvio.

Forbes – que, só para se ter uma ideia, buscou o privilégio de ser o hóspede número 1 do Hotel Fasano – não está sozinho nessa suave transição que vai fazendo da aguardente do Brasil uma referência luxuosa, não mais um condenado tabu. A cachaça, quem diria, já tem o seu próprio name dropping.

A lista pode começar por ninguém menos do que o vice-presidente da República, o mineiro José Alencar, a alma por trás da celebrada Maria da Cruz, destilada em sua fazenda de Pedras de Maria da Cruz, ao muito distante de Januária, MG. Sem forçar a barra de nenhum tráfego de influência, o fato é que a Cachaça do Vice – como ela passou a ser conhecida entre os connaisseurs – tem seus méritos nos quesitos corpo e sabor e não faz feio em eventuais recepções do Itamaraty para governantes estrangeiros.

Para deixar claro que a fraternal caninha não está sujeita a dogmatismos – e tropicões – político-partidários, é bom recordar que a ex-primeira dama Ruth Cardoso chegou a reunir um belo acervo de cachaças na fazenda que ela e o marido, FHC, tinham no noroeste de Minas. A fazenda foi certa vez invadida pelos militantes sem-terra e, aparentemente, com sede. Felizmente para Ruth Cardoso, que dizia manter a prateleira cheia por curiosidade antropológica, os produtores mineiros fizeram questão de repor o estoque.

O ex-presidente da Fiesp, Mario Amato, adorava presentear os amigos, no Natal, com seu produto de garagem, a apreciada Nhonhô, da região de São Roque, São Paulo. Na área empresarial, assumiu a primazia de uma produção para lá de elogiada o CEO da Nestlé, Ivan Zurita. É de Zurita a Cachaça do Barão, envelhecida em jequitibá ali perto de Pirassununga.

Há quem, meio por diletantismo, tenha acabado por construir um consistente negócio, como é o caso do empresário Guto Quintela, pai da cachaça Da Tulha, e o jornalista e escritor Gilberto Mansur, dono da grife Espírito de Minas. E há quem, ainda que insistindo na surrada ideia de que “é produção só para os amigos”, vá acabar fatalmente seduzido pelas novas veredas de um mercado cada vez mais sofisticado e exigente. Aqui, vale a menção ao publicitário Orlando Marques, presidente da Publicis. A branquinha – e também a amarelinha – que este degustador de bordeaux extrai da garapa em sua fazenda de Borda da Mata, sul de Minas, é capaz de adoçar a boca até do mais rabugento consumidor de conhaque. Lá na França.

A propósito, línguas ferinas de Belo Horizonte lembram a noite em que a melhor sociedade local se emperiquitou toda para receber, no Automóvel Clube, Isabel de Orléans, neta da Princesa Isabel e herdeira tanto do trono brasileiro quanto francês. Já no luxuoso salão de candelabros e espelhos, inquirida sobre que aperitivo tomar, a condessa de Paris pediu, com seu sotaque peculiar: “Uma cachacinha, non?”. Foi um deus nos acuda. Tiveram de mandar buscar em um bar vizinho, e nada nobre.


Comentários

Uma resposta para “Enquanto isso, nos Jardins…”

  1. Avatar de victor nascimento
    victor nascimento

    Boa tarde.

    Com o devido respeito, estes produtos podem até ser bons mais cachaça agora e com o sul do Brasil especialmente no Paraná onde a cana se adpta mais o frio e as pedras proximas as reservas do parque nacional do iguaçu (sudoeste do PR).
    A cachaça DENTE DA COBRA, é a bola da vez…
    abraços

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