Meus caros, durante as últimas semanas nós falamos muito sobre como a sexualidade é o ponto central de tantos conflitos entre héteros, entre gays e héteros, e mesmo apenas entre os gays. Homossexualidade então, é gasolina em qualquer fogueira. Percebo nessa história um ponto muito importante a tratar. Já disse que os gays estão em toda parte, mas que muitos preferem não se expor, ficam “enrustidos”, termo que héteros e gays atualmente adotam para substituir o obsoleto “leprosos”. Por que não se revelam? Querem agarrar héteros indefesos nas sombras? Estão se lixando para a própria sexualidade? Não sejamos idiotas, não é nada disso. Cada qual tem lá sua razão, que vai da absoluta incapacidade pessoal em se aceitar como gay, à própria conveniência profissional. Uma coisa é certa: todos temos medo. Do pânico até a mera cautela, temos medo sim.
Resumindo a ópera: quando nos conscientizamos de que somos gays, e isso pode ocorrer na mais tenra idade ou mais tarde, percebemos que viemos para essa vida no estádio certo e na hora exata do jogo, mas nosso assento fica no meio da torcida adversária. Escolhemos ? Não, não tivemos esta chance. Uma coisa é garantida: desde o início estamos todos sujeitos à mais brutal forma de violência: não sermos acolhidos e amados, mesmo por nossas famílias. A este drama se soma, de imediato, a devastadora agressão física e moral por parte de toda a torcida, implacável em seu propósito de destruir o adversário, no caso, o diferente, o gay, tenha este a idade que tiver, seja uma criança, um jovem, ou um homem. Homossexual nasce como é, e isso pode significar uma barra bem pesada. Raríssimas são as exceções. Por essa razão tantos se protegem dentro de armários e, em certos casos, nunca saem dos guetos do Sindicato.
Nunca critico quem tem medo. Eu mesmo tive pavor, só que consegui sair do meu armário, e sei que o caminho pode ser longo e dolorido. Digo a vocês que só acredito existir felicidade para nós fora do armário, mas também afirmo que só cada um, individualmente, pode decidir como, quando e em que grau sairá do seu. Invadir a vida pessoal de um gay para arrancá-lo do armário é uma violência inadmissível, mesmo para outros gays. Muitos não conseguirão sair nunca, pois têm o armário montado em suas mentes, nunca se aceitarão como são, e morrerão infelizes. Outros sairão, mas manterão suas vidas protegidas da sociedade, num círculo social e profissional bem restrito, e devem ser respeitados. Alguns escolhem sair e viver publicamente como gays, frequentam nossos bares e casas noturnas sem dramas, chamam os amigos de bees, e até saem escrevendo blogs por aí. Lógico que nós fazemos de tudo para tentar mudar essa sociedade preconceituosa, e, portanto, adoramos quando esportistas ou atores bonitões se assumem ou demonstram publicamente seu apoio, o que nos ajuda muito. Nossa sociedade já está mudando, devagar, mas está. Leiam meu post Nova era ou fim do mundo?. Com tudo isso, digo-lhes com convicção que considero sagrado o armário dos outros. Cada um é cada um. Leiam Confissões de uma Máscara, de Yukio Mishima, indicação do post Michelangelo e outras dicas. Ele descreveu a vida vista de dentro do armário de maneira maravilhosa e merecerá um post exclusivo em breve.
Dramas à parte, quero compartilhar com vocês um “mico” maravilhoso que paguei há alguns dias. Estava eu no café da Livraria Argumento no Leblon, Rio de Janeiro, esperando por um sobrinho que viria comigo de carro para São Paulo. Ele atrasado e eu já mal humorado, ansioso para pegar a estrada. De repente, percebo uma agitação no café: uma equipe de televisão preparava a filmagem de uma cena de novela, ali na livraria. Era coisa pequena, só um zum zum zum, até que surgiu ninguém menos que Cauã Reymond, em carne e osso, sorridente e solar. Aliás, que carnes, que ossos! Logo atrás, entra meu sobrinho, esbaforido, pronto para pegar a Dutra, mas foi imediatamente imobilizado por um comando meu: “Sente-se e não se mova!” A cena, mínima, foi filmada, e todas as mulheres num raio de 100 m voaram sobre o ídolo, pedindo autógrafos e tirando fotos, saltitantes. As cozinheiras abandonaram a cozinha e vieram todas, ninguém comia naquela hora. Eu não me aguentava, e resolvi pedir um autógrafo para mim também. Eu com essa barba branca que vocês veem em cima, ia me dizer gay e pedir, e ele certamente daria, gentilíssimo que sempre é com gays. Quando vi uma chance, me aproximei e… Amarelei! Não tive coragem de dizer nada, ele sorriu para mim e foi embora. Eu poderia me justificar dizendo ter sido vítima do “Mal de Reymond”: estado pré-catatônico, causado pela overdose de testosterona; pode ser seguido de falta de ar, rubor facial, taquicardia, desorientação espacial, descontrole traqueovocal (gagueira) , ou todos juntos, até levar a um fulminante desmaio. Na verdade, foi timidez e, confesso, resquícios de medos de outrora. Franga velha, 43 anos nas costas, dos quais nove fora do armário, paguei esse mico. Mostro a cara em todos os lugares, principalmente para os meus milhares de leitores aqui no 23b, já apresentei mais de um namorado para mamãe, mas ali, face ao ídolo, amarelei. Estávamos falando de medo, não?
E vocês, acham normal os gays terem medo de sair do armário? Acham que devem ser tirados de lá a força? Invejaram meus segundos em frente do Cauã Reymond?
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