O diretor Fernando Meirelles ficou conhecido no Brasil e lá fora com o filme Cidade de Deus, em 2003, que inclusive o credenciou na disputa de melhor diretor para o Oscar (feito inédito no Brasil). E quem assistiu à transmissão do Oscar, em 2004, não pôde deixar de reparar no seu jeito moleque e descontraído, quando, diante da câmera que o apresentou, fez o “V”, não de vitória e sim de “paz e amor”. Quem entrevista o diretor, e essa é a terceira vez que falo com ele, não deixa de observar esse jeitão de moleque sapeca que não perdeu a coisa lúdica da infância. O diretor falou com exclusividade para o site da Brasileiros, na terça-feira, 26, no HSBC – Belas Artes, no projeto Cine Clube Nextel (o projeto exibe um filme e depois tem debate com o diretor, elenco e parte da equipe). O filme exibido foi É Proibido Fumar, de Anna Muylaert, e o debate contou com a presença da diretora, do ator Paulo Miklos, do montador e diretor Paulo Sacramento, e da atriz Paula Preta.
O diretor nos recebeu logo após o debate e desmentiu os boatos de que iria dirigir dois filmes: um sobre a vida e a carreira da cantora Janis Joplin e outro que seria protagonizado pelo ator George Clooney. Ele nos revelou, entre aspas, o seu novo projeto, que não será um filme falado em português, pois para ele é mais interessante dirigir lá fora, onde se tem mais orçamento e maior visibilidade. Aqui, ele prefere fazer projetos para televisão, como foi o caso da microssérie Som e Fúria, que foi ao ar pela Globo, em 2009. Mas, isso não que dizer que ele não fará mais filmes no Brasil, pois já está engatilhado o seu novo projeto “tupiniquim”, uma comédia escrita em parceria com Jorge Furtado (para os desavisados, o diretor já codirigiu uma comédia, em 2001, Domésticas, O Filme, com Nando Olival, que por sinal é deliciosa de se ver).
Brasileiros – Saiu uma notícia que você fará a cinebiografia da Janis Joplin…
Fernando Meirelles – Foi um erro do cara do (site) UOL. Eu recebi um roteiro (de um filme) sobre a vida dela. Acho que devo ter comentado com algum amigo meu, falando que tinha achado o roteiro legal e esse amigo deve ter comentado com o jornalista do UOL e o cara publicou. Mas não conheço nem o produtor do filme. Eu recebo um monte de roteiro que não que dizer nada.
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Brasileiros – Você continua escrevendo um roteiro com o diretor e roteirista Jorge Furtado, que você vai dirigir?
F.M. – Continuo fazendo o roteiro com Jorge Furtado, que é uma comédia bem bacana.
Brasileiros – Saiu outra notinha na imprensa que você possivelmente fará um filme com George Clooney. É outro boato?
F.M. – É para você ver como a coisa é louca. Eles colocam uma notinha no site (UOL) dizendo que eu ia fazer um filme com George Clooney. Esse cara tem uma mente… Ele viajou na maionese. É a mesma coisa: eu conversei com amigos, no fim de ano e tal. De fato, tinha um roteiro de um filme que se passa na Bolívia com possibilidade de ter o ator George Clooney como protagonista. Alguém deve ter conversado com o jornalista e o cara publicou que estou analisando (a possibilidade de dirigir o filme). Estou analisando nada. Estou aqui garantindo que não vou fazer um filme com George Clooney.
Brasileiros – Não tem nenhum problema particular com George Clooney?
F.M. – Não me interessa fazer essa história. Não tem nenhuma chance de eu fazer. Nada contra ele (risos).
Brasileiros – Sobre a cinebiografia da Janis Joplin, houve um contato com o produtor do filme, não foi?
F.M. – De fato, cheguei a falar com o produtor do filme, mas eu não conhecia nem o cara. O jornalista (que fez a matéria para o site UOL) deu o nome do filme, falou sobre a atriz que iria fazer o papel da Janis Joplin, que não tem nada a ver com o projeto. Você sabe como é que é jornalista (fala com bastante ênfase na palavra).
Brasileiros – Você ficou satisfeito com as duas experiências de filmar lá fora (Meirelles dirigiu O Jardineiro Fiel, em 2005, e Ensaio Sobre a Cegueira, em 2008)?
F.M. – Aprendi muito fazendo esses filmes. Não sei se eles funcionaram, mas gostei de fazê-los e vou fazer outros, com certeza. Quero filmar esse ano. Estou decidindo qual o filme vai ser.
Brasileiros – Será um filme nacional, isto é, falado em português?
F.M. – Acho que não. Atualmente, estou achando que fazer filme pra mim é mais interessante em inglês, porque quando você faz um filme em inglês, consegue um orçamento dez vezes maior do que fazer um filme em português. Cinema é diretamente ligado ao orçamento. Se você tem dinheiro, o filme é bom, se não tem dinheiro é muito difícil fazer um filme bom. Tem de ser gênio, e eu não sou gênio. Então, gosto de poder filmar com estrutura. Tem outra coisa: se você faz um filme em inglês, imediatamente seu filme tem garantia de ser distribuído em 50, 60 países. Se faço um filme em português, vou conseguir lançá-lo no máximo em 6, 7 países, e olhe lá. Para filmar em português, prefiro fazer televisão, como foi o caso da Som e Fúria, que fiz para a Globo no ano passado. Tenho outros projetos para televisão, que adoro fazer.
Brasileiros – Quais são esses outros projetos que você tem para televisão?
F.M. – Nada ainda definido. Estou analisando vários projetos para o próximo ano.
Brasileiros – Agora quando você faz um filme em língua inglesa, fica mais sujeito às críticas, como foi o caso da recepção de Ensaio Sobre a Cegueira, que teve duras críticas no Festival de Cannes e nos Estados Unidos, onde foi fracasso de crítica e de bilheteria?
F.M. – Você fica muito vulnerável. É apavorante. É terrível essa profissão (de diretor). Você faz a coisa com tanto carinho. Sempre pensei, tinha essa fantasia, de ter um ator que fizesse o meu papel de diretor, e, quando o filme fosse estrear, ele daria as entrevistas, iria aos lançamentos, às festas, tiraria as fotos (risos).
Brasileiros – Só que agora é tarde, pois você é um rosto muito conhecido (risos)…
F.M. – Pois é (risos), agora não dá mais, as pessoas conhecem minha cara. Seria tão bom se eu pudesse não ficar exposto e desaparecer (risos).
Brasileiros – Você ficou muito apreensivo em mostrar o filme Ensaio Sobre a Cegueira para o escritor José Saramago (autor do livro em que o filme foi baseado)?
F.M. – Eu fiquei realmente apreensivo, mas também fiquei muito feliz depois que ele assistiu e aprovou. Depois, encontrei com ele no lançamento na Espanha e em Portugal. No ano passado, encontrei com ele numa cidade de Portugal, que estava fazendo um evento em sua homenagem, e ele me convidou para participar. A gente acabou criando uma relação muito boa.
Brasileiros – Você é muito crítico em relação a seus filmes?
F.M. – Eu tenho críticas em relação a todos os meus filmes. Não poderia ser diferente.
Brasileiros – No ano em que o filme Cidade de Deus estreou nos cinemas, em 2003, o cinema nacional atingiu 20% da participação nas bilheterias. Esses percentuais caíram bastante nos anos seguintes. Qual teu prognóstico para o cinema nacional em 2010?
F.M. – Apesar de ter caído depois do pico de 2003, no ano passado tivemos uma participação em torno de 16%, se não me engano, do mercado. Acho que 2010 vai bater aqueles 20%. Devemos chegar em torno de 25% ou senão por volta de 20%, que já é sensacional.
Brasileiros – Quais os filmes nacionais, que serão lançados em 2010 que, na sua opinião, tem potencial de boa bilheteria?
F.M. – Em 2010, teremos megas, grandes e médios lançamentos. Tivemos o filme sobre o Lula (Lula, o Filho do Brasil, de Fábio Barreto, lançado em 1º de janeiro deste ano e que já tem mais de um milhão de espectadores), tem o filme sobre Bruna Surfistinha, sobre o Chico Xavier (novo filme do diretor Daniel Filho, que conta a trajetória do médium Chico Xavier), tem o filme de Guel Arraes que se chama… (tenta se lembrar do nome do filme).
Brasileiros – O Bem Amado.
F.M. – Isso mesmo, O Bem Amado.
Brasileiros – Você não pode se esquecer do filme Vips, que sua produtora, a O2, produz.
F.M. – Claro, bem lembrado. A gente fez o filme Vips, dirigido pelo Toniko Mello, que traz no elenco Wagner Moura. Vamos começar a “bombar” o filme nesse ano. Tem o Tropa de Elite 2 (do diretor José Padilha). Esse ano, por causa da Copa do Mundo, vai ser difícil programar lançamentos no cinema. Tem muitos filmes brasileiros que vão ser lançados com muitas cópias, muita propaganda. Acho que vai ser nosso recorde histórico de (participação) nas bilheterias.
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