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Costurando Kusturica e Maradona
No novo filme do sérvio Emir Kusturica, Maradona, que no original se chama Maradona by Kusturica, o diretor de filmes premiados como Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios (1985) e Underground (1995), fala sobre um dos jogadores mais polêmicos e “porraloucas” de todos os tempos, Diego Armando Maradona (o filme foi rodado entre 2005 a 2007, antes de ele se tornar técnico da seleção argentina e de quase ser esquartejado pelos seus patrícios, por causa das dificuldades que teve em classificar a seleção do seu país para Copa de 2010). O filme é na verdade um apanhado de elogios entre o realizador, que se admira também, e seu pupilo, que admira o realizador e se autoadmira, ou seja, um jogando confetes no outro e serpentinas também. Mas, deixando de lado as admirações que ambos nutrem de si e entre si, o documentário fala sobre alguns episódios envolvendo o jogador, e um dos pontos altos é quando mostra o gol que Maradona fez com a mão na Copa do Mundo de 1986 contra a Inglaterra, e tornando-se mais humano (se é que é possível dizer isso de Maradona), quando ele fala de seus problemas com drogas (cocaína) que, segundo ele, atrapalhou o convívio com suas filhas e abreviou sua carreira. “Eu teria sido muito maior que sou”, declara ele no filme. Ou seja, se Maradona é o segundo maior jogador do mundo, caso não tivesse problemas com drogas, se autossuperaria, tornando-se maior ainda (egos ao infinito…).
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Questionamentos de todos nós
A vida do homem moderno é cada vez mais cheia de conflitos e questionamentos. Bailamos num vácuo, para não dizer vazio, existencial (essa parece ser uma das temáticas mais frequentes nos filmes exibidos na Mostra deste ano), que nos tornamos órfãos num navio sem comandante (Deus). No filme Um Homem Qualquer, o diretor Caio Vecchio coloca as dúvidas e apreensões desse homem moderno, no personagem Jonas (Eriberto Leão) que, carente de afeto e de recursos materiais, pensa entrar no crime. Mas, há sua namorada, Lia (Nanda Costa), e um morador de rua, Isidoro (Carlos Vereza), que vão tentar demovê-lo da ideia e mostrar outros caminhos para ele, caso ele haja outras possibilidades.
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Homem de Lugar Nenhum (Nowthere Man)
A música Nowthere Man dos Beatles define precisamente o personagem central, que não tem nome e tampouco identidade, do novo filme da Suzana Amaral, Hotel Atlântico, baseado no livro homônimo do escritor João Gilberto Noll; um homem de lugar nenhum, fazendo planos inexistentes para ninguém. Hoje vivemos nesse estado de espírito, perdidos em meio ao nada e tragados pelo consumismo. Em entrevista, Suzana Amaral disse que: “A expressão do homem de hoje é a de um homem que não tem vida interior, que não tem passado, que não quer futuro. Ele se extingue no presente porque tudo é consumismo, tudo é consumo.” Na história do filme, o personagem, um ator (vivido por Júlio Andrade), é um estranho, assim como são estranhas as situações e os tipos que ele vai cruzar, quando empreende uma viagem para o sul do País. E é esse estranhamento, o cerne da crítica dos livros de Gilberto Noll, que a diretora captou com sutileza, uma das características dos seus filmes anteriores (A Hora da Estrela, 1985, e Uma Vida em Segredo, 2002).
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Memórias visuais
Já que somos um País que quase não lê e com pouca memória para nossa história e nossos personagens, a safra de documentários brasileiros exibidos na Mostra é um atrativo e quase uma obrigação, caso queiramos conhecer melhor o que nos formou e nos forma. Vale a pena conferir: Eu Eu Eu José Lewgoy, Topografia de Um Desnudo, Um Lugar ao Sol, Pixo, À Margem do Lixo, Reidy, A Construção da utopia, A Raça Síntese de Joãosinho Trinta, Alô, Alô, Terezinha!, Caro Francis, Dzi Croquettes, Flávio Rangel, Notas Soltas Sobre Um Homem Só e, para terminar o passeio histórico brasileiro, Travessia.
João Miguel (ator)
Brasileiros – Antes de fazer o filme Hotel Atlântico, você conhecia o livro do escritor João Gilberto Noll, em que se baseou o longa?
João Miguel – Não. Eu conheci a partir da Suzana [Amaral] e achei bastante inteligente e autoral, do jeito que ela queria fazer. É uma conversa com o livro do Gilberto que é falar da solidão.
Brasileiros – Da perda de identidade das pessoas, da fragmentação do mundo hoje, do individualismo…
João Miguel – Certamente tem esses outros elementos. Acho que Suzana conseguiu ir fundo nisso, como no livro.
Brasileiros – Esse é o quarto ano consecutivo que você tem um filme na Mostra?
João Miguel – É o quarto ano. Adoro a Mostra. O cinema é fascinante, e ele te captura. Eu tive a oportunidade de exercitar, de pensar o cinema fazendo cinema, aprendendo com ele.
Brasileiros – Qual foi o maior desafio na construção dos teus dois personagens mais conhecidos no cinema: Cinema, Aspirinas e Urubus e Estômago?
João Miguel – Acho que o desafio entre esses dois personagens foi o seguinte: em Cinema… que busca um mundo, dentro de uma história super contemporânea, por meio de um personagem tipicamente nordestino, sem estereótipos e caricaturas. Enquanto em Estômago, o personagem vem carregado de uma certa caricatura do nordestino, que exigiu que eu tivesse um desafio para não torná-lo simplesmente uma mera caricatura.
Trailer de Maradona:
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