Entre o isolamento do Muro e a contemplação de Kurosawa

Os solos de guitarra da música Comfortably Numb, do álbum The Wall, do Pink Floyd, continuam ecoando no meu ouvido e das pessoas, a maioria jovens, que lotaram a sala do Unibanco Arteplex 2 na noite do dia 29 de outubro. A exibição do filme homônimo ao álbum de 1979, do diretor Alan Parker (presidente do júri da Mostra deste ano), foi um presente não somente aos antigos fãs de carteirinha da maior banda progressiva e inventiva da história do rock, mas aos jovens de hoje que questionam o mundo em que vivem. A formação original da banda não existe mais (Roger Waters, David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright, já falecido), mas a música dos caras continua eclodindo em nossas almas inquietas. Os muros que ainda construímos entre a gente e os outros persistem e o filme de Parker retrata à perfeição os dilemas do mundo moderno. [nggallery id=14135] No centenário de nascimento do cineasta japonês Akira Kurosawa (1910-1998), a 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo prestou uma justa homenagem ao escultor da alma humana, com a exibição da cópia restaurada do filme Rashomon, que ele realizou 60 anos atrás. Além da projeção do filme, um dos seus vários desenhos (Storyboards) estampou um dos cartazes da Mostra (o outro cartaz foi feito em cima de uma fotografia do cineasta Wim Wenders). Há também a exposição Kurosawa – criando imagens para cinema, no Instituto Tomie Ohtake, que fica aberta até o dia 28 de novembro.E as homenagens não pararam por aí. Foi lançado também o livro À Espera do Tempo – Filmando com Kurosawa, de Teruyo Nogami (uma bela edição da Cosac Naify). O livro traz o testemunho de Nogami, que acompanhou o cineasta por quase meio século, exercendo diversas funções, entre elas a de produtora e diretora assistente. Ela relata, entre outras coisas, os bastidores das filmagens de alguns filmes de Kurosawa, relevando-nos o cotidiano de um gênio do cinema mundial. O tempo, um dos enigmas da humanidade, foi o condutor dos descansos de Akira e de Nogami. Era nesses intervalos, concebidos pela natureza, que eles podiam contemplar o que tinham feito e o que precisavam fazer ainda. No início do livro, Nogami fala sobre isso: “Durante as filmagens, é agradável esperar pela chegada do tempo. É quando a gente faz um intervalo”. Um intervalo para observarmos a nós mesmos e ao nosso redor, incluído os outros.

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