Entre o regular, o bom, o ótimo e o medíocre

O Festival de Paulínia tem sido uma experiência diferente. Todo dia, são exibidos quatro filmes dentro da mostra competitiva (curta-metragem regional, curta-metragem nacional, documentário e longa-metragem ficcional) e há tanta alternância na qualidade que nossos sentimentos, nossas sensações, ficam ziguezagueando entre o êxtase e o completo tédio. Na dá para entender como diretores experientes e com rodagem testada e avaliada tenham trazido para o festival filmes tão complicados.
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No primeiro dia do festival já foi dado o tom do que seria a 3ª edição do Paulínia Festival de Cinema. No mesmo dia, foram exibidos o bom documentário Leite e Ferro, de Cláudia Priscila, e o ótimo desenho de curta nacional Tempestade, de César Cabral, forte candidato a prêmios do festival deste ano. Mas o final da noite nos reservaria uma ingrata surpresa: o novo filme de Alberto Luiz Pereira, As Doze Estrelas, diretor que já tinha realizado os medianos Hans Staden e Tapete Vermelho. Por fim, o curta regional Só Não Tem Quem Não Quer, de Hidalgo Romero, não passou de regular.

Essa tônica, de alternâncias da qualidade dos filmes, dominou os outros dias do festival, que teve o ponto alto no quarto dia, quando foi exibido, para desespero de quase todos os presentes, o novo filme de Ricardo Pinto e Silva, Dores & Amores, uma comédia patética, com atuações caricaturais e uma história pra lá de banal, como comentamos ontem aqui no site.

Os filmes exibidos no período noturno são debatidos no dia seguinte. E foi aí que o bicho pegou. O jornalista que vos escreve fez uma pergunta para Ricardo Pinto e Silva, e o diretor do filme não gostou nem um pouco. Antes da nossa pergunta, o diretor estava visivelmente irritado com as questões dos outros jornalistas, na maioria críticas a seu filme. Ele respondia com certa soberba e chegou a ironizar e confrontar alguns jornalistas. Quando chegou a nossa vez, perguntamos a ele por que tinha trazido seu filme para um festival, um evento no qual sabidamente as produções são avaliadas e, muitas vezes, criticadas. Falamos que Dores & Amores tem uma história banal e é difícil de ser assistido.

O diretor nos tachou de censor e, extremamente transtornado, perguntou quem éramos nós para dizer onde seu filme iria ou não ser exibido. O lugar pegou fogo e outros jornalistas, particularmente Luiz Zanin Oricchio, do jornal O Estado de S. Paulo, pediu a palavra e explicou para o irritadiço diretor, que ele tinha de aceitar as críticas ao filme, pois não eram pessoais. Oricchio também não tinha gostado do filme, mas disse que o debate mais parecia um Fla-Flu.

Depois dos ânimos refeitos, o debate seguiu e, certamente, foi o mais quente e mais longo até agora do festival. Para encerrar o assunto, queríamos apenas dizer que o novo filme de Ricardo Pinto e Silva é medíocre, sim, mas que o diretor tem ótimos trabalhos anteriores, como o sensível e bom Querido Estranho. Filme, inclusive, elogiado antes da pergunta que gerou tanta confusão.

Polêmicas à parte, o quinto dia do festival começou com a exibição do curta regional Depois do Almoço, de Rodrigo Diaz Diaz, que conta de forma engraçada e leve o primeiro “amasso” entre duas amigas, casadas e mães, na casa de uma delas e em pleno jogo da seleção brasileira. A noite seguiu com a exibição do documentário Programa Casé, de Estevão Ciavatta, que conta a trajetória profissional e de vida de Adhemar Casé (avô da Regina Casé), pioneiro de programas musicais do rádio brasileiro. O filme utiliza harmonicamente e com segurança todo manancial utilizado em um documentário (fotos, imagens de arquivo, entrevista, narração em off do próprio Casé, em entrevista para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, além de trechos de filmes antigos). Mas o documentário ainda carece de melhor empatia do público, que durante a projeção ficou um pouco disperso.

O curta nacional Quem Vai Comer Minha Mulher?, de Rodrigo Bittencourt, que parecia que iria agradar o público em cheio, naufragou na pretensão e na maneira nem um pouco criativa de lidar com um argumento bastante promissor. A história gira em torno de dois amigos que se encontram em um bar e um deles fala para o outro, um tremendo garanhão, que sua esposa o flagrou com outra. E agora ela só volta para ele se ela fizer o mesmo. Então, o marido pede a esse amigo garanhão que transe com sua mulher. O interessante argumento é desperdiçado com a falta de habilidade do diretor em narrar a história com imagens e diálogos (o filme é falado em inglês, pois o diretor disse que hoje todo mundo fala inglês no Brasil, pasmem!).

A noite terminou com o filme Malu de Bicicleta, de Flávio Tambellini, que apesar de ser diretor, nos últimos anos vem atuando mais como produtor. Diferente do desenvolvimento da história do dispensável Dores & Amores, que trata da mesma temática de Malu de Bicicleta, ou seja, encontros e desencontros entre um casal, Tambellini comanda o filme com fluidez e segurança. Há momentos engraçados, em que o público ri na hora certa, e momentos mais contemplativos, mas nada pesado, como pede a história do filme, com base na obra homônima de Marcelo Rubens Paiva. O filme é bom e foi bem acolhido pelo público presente e pela crítica.

Último dia do festival
A última noite do festival pode reservar boas surpresas, com a exibição do curta regional Dona Tota e o Menino Mágico, de Adriana Meirelles, o documentário Lixo Extraordinário, de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley, o curta nacional Ensolarado, de Ricardo Targino e o tão esperado primeiro longa de Jeferson De, Bróder.

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