A Entrevista: um filme para não se levar a sério

É preciso desmistificar o filme A Entrevista, depois de toda a controvérsia gerada envolvendo hackers e declarações dos líderes da Coreia do Norte e dos Estados Unidos. Pois apesar de todo o barulho causado em seu lançamento, o filme não passa de mais um besteirol norte-americano.

A trama do filme conta a história do produtor de um programa de entrevistas, Aaron Rapoport (Seth Rogen), e seu apresentador, David Skylark (James Franco), os dois comandam um talk show focado em celebridades. Até que surge a oportunidade deles entrevistarem o líder norte-coreano, Kim Jong-un (Randall Park), e mostrar que são capazes de produzir um “jornalismo sério”.

Como a entrevista deve ocorrer em solo norte-coreano, a CIA entra em contato com Rapoport e Skylark e lhes incumbe da missão de assassinar o ditador da Coreia do Norte. O que é pouco surpreendente no enredo, afinal são sempre os norte-americanos a salvar uma nação de um regime que por vezes é resultado da própria intervenção norte-americana (vide o Afeganistão). Mais uma vez, cabe aos Estados Unidos a responsabilidade de salvar o país asiático.

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James Franco e Seth Rogen em cena do longa – Foto: Divulgação

Desde o início, o filme se baseia em estereótipos e preconcepções, duas características bastante exploradas em filmes do gênero besteirol. Ainda que não se saiba como é de fato Kim Jong-Un e como é a vida na fechada Coreia do Norte, sabe-se que construir personagens e uma história em cima disso, só pode resultar em algo caricatural.

Dessa vez, em A Entrevista criaram o que seria o estereótipo de um vilão oriental. Kim Jong-un é uma pessoa ressentida porque seu pai, ex-líder do país, era uma figura autoritária e é também uma pessoa ruim porque precisa provar ser melhor que o pai, ainda que não resista aos encantos da indústria cultural norte-americana. O personagem interpretado por Randall Park não vai mais longe do que isso. É apenas um beberrão e fã da cantora Katy Perry.

Quanto as outras atuações, Seth Rogen até convence no papel de produtor de consciência pesada por não produzir um jornalismo sério. No entanto, interpreta mais um personagem tipicamente perdedor, de caráter ingênuo, nada além do que já se viu dele em outras comédias. Por outro lado, James Franco, que já interpretou papéis interessantes no cinema (vide sua interpretação do poeta Allen Ginsberg na cinebiografia Uivo), dessa vez parece querer tanto convencer o espectador de que é engraçado que se perde e chega a ser demasiado forçado e caricato.

No geral, trata-se de mais uma comédia que se utiliza de piadas relacionadas a genitálias, sexo, drogas, indústria cultural e sexismo para fazer o público rir. Com diálogos intermináveis que envolvem escatologias ou trocadilhos e gestos que remetem também a algum dos temas ditos anteriormente. 

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Diana Bang, Seth Rogen e James Franco interpretam respectivamente, Sook, Aaron Rapoport e David Skylark – Foto: Divulgação

É também preciso falar sobre o machismo presente no filme. As duas personagens femininas principais são: Lacey, a agente da CIA (Lizzy Caplan) e Sook, emissária da Coréia do Norte (Diana Bang). Apesar de importantes para a trama, não são importantes o suficiente para ter um sobrenome. Além disso, ambas são colocadas de alguma forma sexual ao longo do filme.

No primeiro caso, a agente usa seu corpo para seduzir o apresentador, David Skylark, para participar da missão de matar Kim Jong-un. Eles até tentam fazer piada do próprio machismo, mas acabam por insistir nele posteriormente. 

Sem contar a objetificação da mulher, que em dado momento do longa, tem o seu corpo seminu e nu explorado para a diversão do apresentador e do líder norte-coreano e também do público masculino.

Talvez, o que poderia ser interessante no filme é o leve cutucão que faz ao jornalismo de entretenimento, baseado na vida de celebridades. Em certo momento, um ex-colega de faculdade de Rapoport, compara com sagacidade seu trabalho no reconhecido programa de entrevistas, 60 minutes, com o trabalho do talk show. Mas como é de se esperar, a questão não é aprofundada, porque afinal não é a intenção do filme. 

Veja o trailer abaixo:

Apesar de tudo, a produtora Sony Pictures já ganhou cerca de R$ 100 milhões em vendas digitais do filme. A Entrevista chega aos cinemas brasileiros no dia 29 de janeiro.


Comentários

Uma resposta para “A Entrevista: um filme para não se levar a sério”

  1. Creio também que o filme faz uma leve crítica em relação a manipulação, em diversas formas, desde a “sedutora” agente da CIA tanto quando na Coréia do Norte, com o mercado falso, e o Ditador que manipula e faz ele enxergar o que é pra ser enxergado, e não a total realidade.

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