Equilíbrio precário

No começo de fevereiro, o calor no Rio de Janeiro chegou aos 41 °C e aquela exacerbação de temperatura chamada “sensação térmica” foi aos 50 °C. Isso empurrou as pessoas pro mar, a televisão mostrou as águas da praia do Arpoador cheias de banhistas se refrescando. À noite!

Em Porto Alegre, as baixas latitudes contrastaram com altas temperaturas e os gaúchos começaram a chamar sua cidade de “Forno Alegre”. Nem afamados esportistas, como João Batista da Silva, comentarista e ex-jogador do Inter, do Grêmio, do Palmeiras e da Seleção Brasileira, resistiram. Pálido e seguindo sua pressão arterial, Batista também desabou, fulminado pelo calor, durante a transmissão de um jogo do Grêmio. Ao vivo e em cores (poucas), foi direto para o YouTube.

Lá para cima, o equilíbrio climático também é precário. Na Europa, inundações na Itália e nevascas violentas na Alemanha ocuparam as manchetes de jornais. Na França, o fim de ano surpreendeu com uma Paris branca de neve, e o frio intenso e madrugadas de neve intermitente espantaram também os espanhóis em Madri.

Enquanto escrevo, toca o telefone e atendo minha filha Patrícia, que mora em Washington, onde é correspondente do Estadão. Ela diz que não pode sair de casa, que não há táxis e nem metrô. Lá, se espera uma tormenta com previsão de parar a cidade com mais de um metro de neve. O site do The Washington Post diz que se aguarda o snowmageddon, e mostra fotos de prateleiras de supermercados esvaziadas pela população em pânico.

Nesta página, a nuvem negra rotineira de uma São Paulo que não é mais da Garoa. Agora, é a São Paulo das tempestades, das enchentes, dos rios que transbordam, das marginais dos horrores. Das árvores que desabam em cima de carros, de ruas. De casas que não resistem e desmoronam, de gente que perde tudo, perde tevê e geladeira, perde parentes, perde filhos e perde a própria vida. Desde dezembro até agora, começo de fevereiro, já morreram quase uma centena de pessoas.

Há lugares onde há um mínimo de infraestrutura, de logística para lidar com emergências. Não é o caso de São Paulo. Aqui ainda há muito o que remendar, e o equilíbrio cada vez é mais precário.


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