Famoso na Europa e principalmente na Holanda, onde nasceu e é best-seller absoluto, Arnon Grunberg aceitou participar de uma experiência pioneira, que pode significar um avanço no mapeamento das emoções no cérebro e nas investigações sobre as origens do processo criativo.
Há cerca de três semanas, ele passa os dias escrevendo o novo romance em seu apartamento em Manhattan com um capacete de eletrodos na cabeça para captar suas ondas cerebrais. Além disso, sensores monitoram seus batimentos cardíacos e temperatura da pele e câmeras gravam suas expressões faciais (veja).
O mais interessante é que 50 leitores, igualmente monitorados, serão escolhidos aleatoriamente para lerem o livro quando estiver pronto, daqui a cerca de cinco meses. Para que os cruzamentos dos resultados sejam efetivos, a experiência é feita de forma a que se possa sincronizar os intervalos de escrita e de leitura, assim como fixar regiões em que o autor explorou determinadas emoções.
“Será que os leitores de Arnon terão as mesmas reações que ele teve ao escrever, ou o processo de leitura é algo completamente diferente?” pergunta-se Ysbrand van der Werf, em matéria do New York Times. Pesquisador do Netherlands Institute for Neuroscience, ele é responsável pelo experimento, ao lado de Jan van Erp, do Netherlands Organization for Applied Scientific Research.
Muitos autores e estudiosos afirmam que é o leitor quem “escreve” o livro. Essas fronteiras entre a criação e a forma como a recebemos e a interpretamos, podem ser parcialmente desfeitas pelos esforços de Grumberg, van der Werf e van Erp.
No site da Noblus, empresa que desenvolveu o equipamento para a experiência, o escritor afirma que três questões básicas o estimularam a aceitar o papel de cobaia: “o que realmente acontece quando eu escrevo e no que isso é diferente de outras situações?”; “o quanto de mim é revelado pelos sensores e eletrodos?”; “essas medições podem levar ao autoconhecimento?”. A experiência pode ser acompanhada pelo site do autor.
Como lembra o New York Times, experiências recentes mostraram diferenças na atividade cerebral quando se lê por prazer ou para estudo; mostraram também que as pessoas que leem “alta” literatura têm mais capacidade de empatia do que aquelas que leem literatura “comercial”.
A questão se complica se pensarmos que os dados da experiência com Grunberg podem também ser explorados comercialmente, com as grandes empresas “ajustando” os livros de acordo com a reação neurológica dos leitores. Nada improvável, mas também nada que já não seja feito de outras maneiras.
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