Esqueletos do Senado saem dos armários

Eles já não assustam mais ninguém, de tão familiares que se tornaram de todos nós nas últimas semanas, mas agora é o próprio presidente do Senado, José Sarney, quem se surpreende com a quantidade:

“Não sei por que agora resolveram tirar todos os esqueletos do armário’, desabafou ele ao receber ontem o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, segundo relato de Renata Lo Prete, na coluna Painel, da Folha.

Diante do circo de horrores protagonizado pela Casa para a qual foi reeleito pela terceira vez, Sarney resolveu adotar uma medida radical: afastou de uma penada só os 136 diretores do Senado.

Como é mesmo? São 136 diretores para apenas 81 senadores desta nossa pobre República, ganhando cada um R$ 16 mil por mes, fora as gratificações pela função?

Dá mais de um diretor e meio por senador, comandando uma tropa de 6.500 funcionários, ou seja, mais de 80 por gabinete! Deve ser a maior concentração de diretores e funcionários por metro quadrado do mundo.

Qualquer empresa com esta relação custo/benefício de mão-de-obra já teria fechado as portas há muito tempo – o que é exatamente, aliás, o que muitos leitores deste Balaio vêm proponto desde que começou esta nova safra de denúncias contra o Senado.

O que deve ter de armários naqueles ambientes sem janelas, muitos ainda não abertos, é assustador. Boa parte destes esqueletos foi colocada ali pelo próprio Sarney em suas duas passagens anteriores pelo comando da Casa, todos devidamente apadrinhados pelos seus pares que o elegeram.

Ficariam lá guardados em sossego eternamente, se estes preclaros diretores não tivessem exagerado na dose e dado muita bandeira.

O trem fantasma do Senado começou a sair dos trilhos quando apareceu na imprensa a monumental mansão de Agaciel Maia, indicado faz 15 anos por Sarney para diretor-geral do Senado. Avaliada em módicos R$ 5 milhões, Agaciel esqueceu-se de registrá-la em cartório. Foi o primeiro a dançar.

Não demorou muito, pegaram seu substituto interino, João Carlos Zoghbi, diretor de recursos humanos, também morador de uma bela mansão, que cedeu seu apartamento funcional a parentes.

O grande deboche com a cara dos eleitores que mandaram os nobres senadores para lá viria com outra revelação feita pela Folha: em pleno recesso de janeiro, com os gabinetes, plenários e corredores às moscas, o Senado mandou pagar R$ 6,2 milhões em horas extras a 3,8 mil funcionários.

Para Sarney, no entanto, a gota d’água foi a denúncia feita esta semana de que sua filha, a também senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), pagou a viagem de amigos do Maranhão com a sua cota de passagens e os levou para se hospedar na residência oficial da presidência do Senado.

Mandou os 136 diretores colocarem seus cargos à disposição e chamou a Fundação Getúlio Vargas para apresentar uma proposta de reforma administrativa do Senado.

Como o país poderá sobreviver se, ao final da reforma, eles forem todos definitivamente mandados para casa, juntamente com algumas levas de servidores que dirigiam?

A FGV só não poderá fazer nada com quem os indicou, quer dizer, os 81 senadores eleitos, embora grande parte hoje seja constituída de suplentes que não tiveram nenhum voto.

Pelo jeito, não andam muito preocupados. Com tantos esqueletos saindo do armário, o inefável Mão Santa (PMDB-PI) ainda encontrou tempo para fazer graça.

“Há muita inveja. Mas representamos o que há de melhor neste país, virtuosos, os pais desta pátria!”.

Em tempo: alertado pelo leitor Gelson Galvão, acrescento mais uma no balaio de denúncias sobre abusos praticados no Senado. Segundo o noticiário de hoje, o senador Tião Viana, do PT do Acre, cedeu um celular do Senado, que é pago por nós, para sua filha usar durante uma viagem a passeio ao México.

Em tempo 2: escrevo sobre tantos assuntos aqui que acabo esquecendo do mais importante. Não percam esta noite, a partir das onze e meia da noite, o SBT Repórter com uma reportagem inédita da minha filha Mariana Kotscho.

Tema: qual o segredo da felicidade a dois?

Para descobrir as respostas, ela ouviu casados e separados de todas as idades, conta os bastidores de um casamento gay no interior de São Paulo, mostra como um casal vive feliz há mais de cinco décadas e revela a incrível história de uma esposa que flagrou o marido com outra.


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