Boston é uma cidade repleta de monumentos lembrando os sofrimentos de seu povo. Essa caraterística foi citada pelo editorial do diário local, The Boston Globe, no dia 16 último. Evocava-se a resistência e tenacidade dos nativos. Nesse momento eles precisam destas virtudes, e talvez da construção de mais um memorial. Às 2h50 de 15 de abril, duas bombas explodiram em sequência, com intervalo de 12 segundos, perto da linha de chegada da maratona local. Pelo menos três pessoas morreram e outras 120 ficaram feridas – várias delas com gravidade. Tratava-se do pior atentado terrorista sofrido na capital do Estado de Massachusetts nos últimos 100 anos.
Os dois artefatos explosivos improvisados, contendo pregos, bolas de aço e outros pedaços de metais cortantes, acomodados em panelas de pressão e colocados em lixeiras perto da área de concentração da linha de chegada, foram preparados para detonação num momento crítico da corrida. Pouco mais de quatro horas depois do início oficial da competição, e marca da chegada de grande número de participantes amadores. A disposição das bombas na calçada da Boylston Street – centro comercial da cidade – com separação de cerca de 50m entre elas, causou maior dano entre os espectadores. Um dos mortos foi o menino Martin Richard, de oito anos, que torcia pela chegada do pai maratonista, um líder comunitário. A mãe e a irmã do garoto ficaram gravemente feridas.
As autoridades americanas demoraram, para atestar o óbvio: tratava-se de um atentado terrorista. Mas não revelam suposições sobre a autoria.
O estudante saudita Adbulrahman Ali Alharbi, de 22 anos, foi apontado como suspeito, questionado pelas autoridades e teve seu apartamento revistado pelo FBI. Ele estava sendo mantido internado num hospital local, tendo sido atingido por fragmentos da bomba, mas sem correr risco de morte. No dia seguinte, porém, os investigadores já diziam que Alharbi era apenas “testemunha” e não estaria implicado no atentado.
Os detalhes dessa ação, 11 anos depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, compõem material dos pesadelos americanos. A começar pelas caracteríticas das bombas, muito semelhantes aos famosos “IEDs” (Improvised Explosive Devises) – aparatos explosivos improvisados – usados com frequência durante a ocupação do Iraque. Some-se a isso, o fato de que as vítimas, como nos ataques ao World Trade Center e ao Pentagono, eram civis ou da equipe de resgate.
É cedo para especulações. Mas algumas fontes da área de segurança anti-terrrismo não deixavam de adiantar teorias. Frank Maggio, ex- agente do FBI em Nova York e atual consultor de segurança, disse à Brasileiros: “A tese de terrorismo islâmico é sempre a preferencial. Porém, não podemos descartar as suspeitas de agentes domésticos. Lembre-se de que essa maratona prestou homenagem às vítimas do massacre de Newton, em Connecticut. Justamente quando no Congresso se discute novas legislações restritivas ao porte de armas. Existem muitos descontentes com essas medidas.”, diz Maggio.
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“A maratona de Boston se realiza no chamado ´Patriots Day´, feriado inspirado pela revolução de independência do país. Além disso, abril é mês cheio de datas importantes para grupos nativos de extrema direita. O dia 19 é aniversário do término trágico do cerco de Waco, no Texas, quando as autoridades invadiram um culto religioso, cujos integrantes armados morreram no local. Também foi o dia em que o terrorista Timothy McVeigh explodiu a bomba que demoliu um prédio público em Oklahoma City. Some-se a isso o 20 de abril que é data do nascimento de Adolph Hitler. Tudo isso deve ser levado em consideração. Existem vários ex-soldados que sabem como construir IEDs”, diz Maggio.
Voltava-se, porém, à paranoia principal. A de continuidade de ações corrosivas de terroristas radicais islâmicos. De Boston a San Francisco, passando por Los Angeles, Atlanta e, especialmente, Nova York, as forças de segurança entraram em alerta máximo. Em Manhattan, o contingente de cães farejadores, empinavam focinhos, absorvendo o ar viciado das plataformas de metrô. Todo o canil da polícia estava nas ruas. Em Times Square, cerca de 50 veículos de patrulha foram estacionados em ângulo de 45ᵒ nas calçadas Leste e Oeste. Soldados da Guarda Nacional, armados de metralhadoras e fuzis automáticos, patrulhvam locais de grande movimento como a Grand Central Station e aeroportos.
Se Nova York parece agora uma praça de guerra, Boston, segundo o brasileiro Ademar Rossini – que correu a maratona e chegou um pouco antes das explosões – está em clima apocalíptico: “Aqui no centro de Boston parece o apocalipse. A cidade tem pouco movimento nas ruas e a Boylston Street está como o marco zero do fim do mundo”.
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