“Everybody loves Brazil”: o editorial da revista “Brasileiros”

Viram que chique? Agora tem até título em inglês no Balaio. Pena que não é meu. É o título dado ao editorial da edição número 27 da revista mensal de reportagens que tem o sugestivo nome de “Brasileiros”, escrito pelo meu velho colega e parceiro Hélio Campos Mello, que acumula as funções de fotógrafo, diretor de redação e publisher desta bela experiência editoral independente.

Acabei de pegar nas mãos a edição de outubro da revista, que já está nas bancas, com o Antonio Fagundes na capa – de terno, colete e descalço – e uma bela matéria com o grande artista gráfico brasileiro Elifas Andreato – modéstia à parte, feita por mim mesmo.

Participo desta aventura desde o processo de criação da revista e, ao longo destes mais de dois anos nas bancas, sou testemunha da garra e da valentia do casal Campos Mello, que toca a empreitada – ao lado de Hélio, está sempre a incansável Patrícia Rousseaux, sua mulher – junto com uma pequena equipe de jornalistas e designers, formada em sua maioria por jovens.

Sem ser ligado a qualquer empresa de porte, sem mecenas nem sócio capitalista, o milagre da sobrevivência da “Brasileiros”, lutando na selva do mercado publicitário e editorial dominado por poucos grandes grupos, é emblemático de uma boa parcela do povo do nosso país que parou de chorar as pitangas, ficou de pé e foi à luta.

Cada edição é como se fosse um parto difícil em que, ao final, acaba dando tudo certo, e a gente não sabe se ri ou se chora. A revista é bonita e bem feita, tem reportagens sobre um Brasil que raramente sai na mídia, conta a história dos anônimos e o lado desconhecido dos famosos. É uma revista que tem alma, tem vida, tem muitas histórias para contar.

Gostaria de participar mais destes partos, mas, embora juntos desde o começo, ele como publisher e eu como repórter, só nos vemos quando saímos para fazer uma reportagem ou no fechamento da revista. Raramente nos encontramos ou conversamos fora do trabalho, cada um com seus compromissos.

Por isso, achei fantástico quando vi o editorial “Everybody loves Brazil” que ele escreveu sem falar comigo. É o que dizem as principais publicações lá fora, mas escrito por um brasileiro me deixou ainda mais feliz.

Apesar da distância, continuamos pensando as mesmas coisas e defendendo os mesmos ideais que nos levaram a fazer a nossa própria revista. Na mesma semana, escrevi algo muito parecido num post publicado aqui no Balaio sobre as Olimpíadas, o bom momento vivido pelo Brasil e a urubuzada agourenta que não se conforma.

Até hoje tem gente me xingando por conta disso. Parece que virou ofensa pessoal falar bem do Brasil. Desconfio que agora quem vai apanhar é o Hélio, um cara que tem a mesma idade que eu (apenas um dia a menos), torce para o mesmo time e, como todo fotógrafo, diverte-se aporrinhando a vida dos repórteres.

O editorial de Hélio Campos Mello:

“Everybody loves Brazil”

Não é por acaso que esta revista se chama Brasileiros. Escolhemos esse nome, em fevereiro de 2007, porque defendíamos – e defendemos – o direito de olhar para o País com mais carinho. Defendemos o direito de torcer a favor dele, e não contra ele. Defendemos a dispensa da obrigação elitista de sermos “inteligentemente” irônicos, autodepreciativos e carregados de soberba ao criticar o País. Podem nos dispensar dessa obrigação. Trocamos tudo isso por torcer e, principalmente, por trabalhar para que o Brasil cresça sob todos os aspectos. Os econômicos, os sociais e os éticos.

Defendemos que o Brasil precisa gostar mais do Brasil. E isso, é óbvio, não significa ignorar o que há de errado nele. E a realidade do dia a dia nos mostra que muito há de errado. Muito há por fazer. Muito há por melhorar. Mas isso não significa que não se possa comemorar o que há de bom. O que foi feito e o que está em andamento. Nós não nos furtamos da crítica. É da nossa essência. É da nossa função. Mas fugimos da prática do linchamento oportunista, calhorda e metido a besta. Assim como fugimos da pieguice. Ou pelo menos do excesso dela.

Desde nossa primeira edição, em julho de 2007, defendemos o direito de demonstrar paixão e emoção no que fazemos e na maneira como olhamos para o Brasil. E, como já estava registrado no nosso número 1, isso passa bem longe de qualquer tipo de ufanismo.

Por tudo isso, trazer as Olimpíadas para o Rio nos encheu de emoção. A vitória conseguida na Dinamarca provocou alegria e entusiasmo. O discurso do presidente da República foi de encher os olhos. Tanto a redação quanto sua interpretação. Pura emoção. Os vídeos feitos por Fernando Meirelles e seus parceiros foram de absoluta e notória competência. Todo o trabalho foi de emocionar.

Agora, a hora, mais do que nunca, é de mãos à obra. Há muito que planejar, muito que trabalhar. A nossa imagem lá fora nunca foi tão positiva. Precisamos melhorá-la aqui dentro e, para isso, é preciso, de um lado, trabalho e, de outro, boa vontade. O Brasil precisa gostar mais do Brasil.

Entre as várias entrevistas que foram feitas nos momentos em que antecederam o anúncio da escolha do Rio como sede das Olimpíadas de 2016, uma chamou a atenção. Um jornalista de língua inglesa, perguntado pela repórter brasileira sobre qual seria a cidade escolhida, respondeu de imediato: Rio de Janeiro. Por quê? “Well everybody loves Brazil!”

Em tempo: para não pensarem que nós dois estamos ficando loucos por vermos as coisas de uma forma um pouco diferente da maioria dos nossos colegas da mídia, reproduzo abaixo trecho da coluna do professor Antonio Delfim Netto publicado na “Folha” desta quarta-feira. Sob o título “Virando a página”, escreve este respeitado economista, que foi ministro no regime militar e pode ser chamado de tudo, menos de perigoso vermelho e petista xiita:

“Creio que podemos deixar para trás o diário da crise e voltar as atenções para uma nova agenda de desenvolvimento que se abre à nossa frente.

Há uma conjunção de fatores, internos e externos, oferecendo ao Brasil a oportunidade de recuperar o desenvolvimento e manter um ritmo de crescimento de 6% ou 7% do PIB ao ano nas próximas duas décadas.

Ao contrário da maioria dos países, estamos chegando ao final do ano sem queda do PIB e já entramos em 2010 crescendo a uma taxa anual de 4,5% ().

Está bom assim ou, como costumam dizer, ainda é cedo para comemorar?

Para Barros e Silva

Como bem sabem os leitores mais assíduos deste Balaio, jamais respondo aos ataques que recebo neste festival de destruição de reputações em que se transformaram alguns espaços da blogosfera em guerra permanente uns contra os outros. Não é minha praia, não gosto disso. Cada um que escreva o que quiser e seja responsável por suas palavras.

Mas vou abrir uma exceção para contestar Fernando de Barros e Silva, um colega que respeito, foi meu editor, mas cometeu um pequeno engano ao me citar em sua coluna de terça-feira na “Folha”, que só li hoje ao voltar de viagem.

“Palocci, Gushiken, Duda Mendonça, Silvinho Pereira, Frei Betto, Ricardo Kotscho – todos os que aparecem ao redor de Lula de alguma forma fizeram água”, escreve ele a certa altura, ao comentar o filme “Entreatos”, documentário de João Moreira Salles que mostra personagens da campanha presidencial do segundo turno de 2002.

Como assim fizeram água? Cada um dos citados deixou o governo por motivos diferentes. No meu caso, pelo menos, posso garantir que aconteceu exatamente o contrário: minha vida pessoal, pessoal e profissional só melhorou muito de lá para cá. É verdade que a comunicação do governo também. Por isso, costumo dizer a meus velhos amigos que continuam lá: minha saída foi boa para os dois lados.

Foi exatamente por razões pessoais e familiares que deixei o cargo de secretário de Imprensa do governo Lula, no final de 2004, como sabem todos os jornalistas que conviveram comigo em Brasília, inclusive os da “Folha”.

Nos últimos cinco anos, não tive motivos para fazer água, não posso me queixar da vida: como profissional autônomo, além do meu Balaio aqui no iG, onde tenho contrato até 2011, escrevo para a revista “Brasileiros” e faço palestras pelo Brasil inteiro; escrevi mais dois livros (lançados pelas editoras Companhia das Letras e Ediouro, muito respeitadas no mercado); ganhei mais dois premios (o Troféu Especial da ONU de Direitos Humanos, em 2008, e o TopBlog 2009, na categoria política); fiz trabalhos jornalísticos para diversas grandes empresas (entre outras, O Globo, TV Globo, Bradesco, revista Globo Rural, DM9DDB, Itaú Cultural), além de ser conselheiro (não remunerado, como todos os outros) da Associação Brasileira de Imprensa.

Somando tudo, posso garantir ao Fernando de Barros e Silva que ele não precisa se preocupar comigo: nunca fui político nem sou candidato a nada, ganho hoje mais do que nos tempos da “Folha”, e várias vezes mais do que quando trabalhei no governo.


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