As festas que Isabel Gouvêa costuma documentar reúnem mais de 500 mil pessoas. Há mulheres com vestidos lindíssimos, flores por toda a parte. Mas é uma pequena – ou talvez grande – peculiaridade que atraiu a fotógrafa e a levou dedicar os últimos 15 anos nessas celebrações. “As pessoas ficam em silêncio, pensativas. E isso me deixa enternecida. É o momento que uma energia extremamente diferente e interessante acontece”, diz.
Assim são as festas de Iemanjá na Bahia, ao menos através das lentes de Isabel. Comemorações que impressionam pela exuberância sensorial, mas também pelo tom solene. “Fico encantada com a doação e a relação com a natureza. Tenho uma verdadeira adoração pelo mar. Acho bonita uma festa na qual as pessoas se curvam para ele.”
Nascida em São Paulo e radicada há 32 anos em Salvador, Isabel reuniu esse trabalho, realizado nas três festas para Iemanjá que acontecem anualmente na região – dia 2 de fevereiro, no bairro do Rio Vermelho, dia 3, na Ilha de Itaparica, e, com data móvel no mesmo mês, na cidade de Cachoeira, a 116 km de Salvador – em uma exposição batizada Encantamento, que já passou por São Paulo, Brasília e Salvador. Além de 41 fotos, a artista elaborou instalações multimídia nas quais uma série de 104 imagens do orixá é projetada em espelhos d’água, dando a sensação de fotos submersas. Também faz parte desse projeto o chamado Pequeno Inventário de Sereias, conjunto de imagens translúcidas dessa figura mítica.
Isabel afirma que as festas de Iemanjá são bem distintas entre si. A do Rio Vermelho é a de maior escala – neste ano reuniu 600 mil pessoas. A de Itaparica chama a atenção pela profusão de cores. Já a de Cachoeira é a única realizada longe do mar, às margens do rio Paraguaçu. As oferendas são levadas à Pedra da Baleia, envolvida em lendas. “Quando os negros estavam sofrendo com a escravidão, chamavam muito por Iemanjá. Ela teria vindo nadando da África, em forma de baleia, encalhou no rio e se transformou em pedra”, conta.
A rainha do mar tem uma popularidade que cruza os oceanos. A editora francesa Larousse publicou uma imagem da série Encantamento de Isabel na capa do livro Iemanjá: La Sirène aux Étoiles (2009), de Marion Aubrée e Isabelle Boudet, que faz parte da coleção Deuses, Mitos e Heróis.
Inicialmente, Isabel fotografava todo o ciclo das 17 festas populares de Salvador. Atualmente, ainda realiza esse trabalho por meio dos jovens que participam do projeto Oi Kabum! (veja matéria sobre o Instituto Oi Futuro na página 100), escola de arte e tecnologia para comunidades carentes, da qual é coordenadora desde 2004.
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