Exclusivo: em Porangaba, a louca ciranda dos partidos

PORANGABA (SP) – Poderia estar agora em qualquer outra pequena cidade do interior do Brasil que o cenário não seria muito diferente. Em Porangaba, onde cheguei no final da tarde, encontrei um retrato três por quatro da ciranda partidária nesta antevéspera das eleições municipais de 2008.

A dança das cadeiras foi tamanha de uma eleição para outra que fico imaginando a confusão na cabeça dos 6311 eleitores (a cidade tem 8 mil habitantes) que irão às urnas neste domingo.

Vou tentar resumir, mas a história é mesmo complicada. Só para se ter uma idéia, o médico dr. Wilton, que em 2004 foi o candidato do PT e perdeu para o advogado Dito Machado, do PSDB, por apenas 37 votos, agora está no DEM e é o vice na chapa do bancário e sitiante Luiz do Deraldo, apoiado por uma parte dos candidatos a vereador do PT (a outra está com o PSDB), que não tem candidato a prefeito e nem participa de nenhuma coligação.

Dito Machado elegeu-se com o apoio do ex-prefeito João Francisco, fazendeiro e engenheiro da Prefeitura de São Paulo, com quem rompeu em 2006. João Francisco ficou um tempo sem partido e depois entrou no PMDB, partido que o lançou candidato ao lado do vice Elias Marques, que é o dono da rádio da cidade. Agora, Dito e João estão como Kassab e Alckmin, estranhos no mesmo ninho.

A disputa parecia se limitar aos dois ex-aliados. Mas, nas últimas semanas, correndo por fora, surgiu a terceira via com o demo Luiz do Deraldo aliando-se a uma ala do PT, mais o PP e o PSB na coligação “Porangaba agora muda para valer”.

A Coligação “Frente Nova” de Dito, que tem como vice a professora Tia Zezé (Maria José Diniz Paes, filha do falecido ex-prefeito Minguinho, que era do antigo PDS), ficou com o PPS e o PTB, enquanto João juntava, na coligação “Competência Comprovada”, o PDT e o PV. Nesta salada de siglas, que não querem dizer absolutamente mais nada para o eleitor, também as propostas dos candidatos não o ajudam a decidir seu voto.

Falar em ideologia por aqui, então, nem pensar. Isso é coisa de muito antigamente. Impossível dizer quem é direita e quem é esquerda por aqui. Mas todo mundo sabe que, se falar mal do Lula na rua, corre o risco de perder votos e, ainda por cima, tomar uma surra.

No intervalo de uma hora, falei com os três na mesma rua, a 4 de Junho (data do aniversário da cidade) e ouvi as mesmas respostas: é preciso melhorar a saúde e o abastecimento de água, e criar um distrito industrial para gerar empregos.

Talvez isso explique a estranha calmaria que encontrei na cidade desta vez. Desde que venho aqui faz três decádas, época de eleição era uma guerra. Já teve muito tiro e rojão pipocando no auge das campanhas. Porangaba sempre se dividiu ao meio na hora de escolher seu prefeito, desde os tempos em que Mario Mendes, do antigo MDB, e Mario Nogueira, da Arena, disputavam o poder na cidade.

Na última eleição, os eleitores ainda enfrentaram uma batalha de bandeiras amarelas, dos tucanos, e vermelhas, do PT, disputando cada pedaço de chão no caminho das urnas.

Agora, apareceram as bandeiras azuis dos demos e as brancas e vermelhas do PMDB, mas apenas nos telhados das casas, em razão de um acordo firmado na semana passada entre as três coligações com representantes da Justiça Eleitoral e da polícia, para evitar o confronto nas ruas.

Neste clima modorrento de burgo do interior alemão, fica difícil fazer qualquer previsão sobre o que as urnas vão dizer no domingo. Cada candidato fez suas próprias pesquisas, e está certo da vitória, mas, ao contrário do nosso amigo Carlos Augusto Montenegro, o homem do Ibope, o DataBalaio não vai arriscar nenhum palpite.

Amanhã conto mais, porque agora preciso ajudar a Mara a fazer o jantar.

Boa noite.


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