O papo em Nova York no começo de junho é sobre as fotos que o deputado Anthony Weiner (democrata – NY) enviou via Twitter. Trata-se de um arquivo vasto de imagens do corpo do congressista, suficientes para ilustrar um almanaque de anatomia. A, digamos, peça de resistência é um retrato do pênis do sujeito. O volume está acomodado em uma cuequinha cinza ratinho. Percebe-se nitidamente que o homem é judeu.
Tem foto do cara fazendo diversas poses próprias do halterofilismo – embora ele seja mesmo um peso-pena – e uma certa mania com o maior detalhe da masculinidade. O que apenas piorou o nível das piadas, já que o nome Weiner pronuncia-se, e é grafado, do mesmo modo que um sinônimo de “salsicha” ou para o órgão sexual do homem. Ou seja: o Weiner mostrou seu weiner, quem sabe para alguém que não estava ligando seu nome à coisa.
Foi um escândalo. Mas o homem – até o momento em que escrevo – não havia cometido nenhum crime. No máximo, quebrou o decoro parlamentar e o da nação sempre tão enraizada no puritanismo. Exibicionismo como esse ocorre anualmente às dúzias, somente entre políticos e celebridades. De resto, todo mundo remete imagens semelhantes via e-mail, Twitter ou qualquer outro meio – dizem que estão até tentando fazer o mesmo via sinal de fumaça.
A pergunta que me faço é: por quê?
Se a correspondente quer inspecionar sua bagagem antes de abrir a alfândega, ainda vá lá. Mas tanta foto para tanta gente não parece ser coisa que vá render benefícios. E com a agenda de um deputado – com olhos gordos sobre a prefeitura de Nova York -, como é que o homem arranjou tempo? Fosse lá uma Paris Hilton – que não faz nada além de filmar comercial de cerveja -, ainda daria para compreender.
O fenômeno todo é um paroxismo de narcisismo. Não apenas envolve espelho, como também objetiva de câmera e envio do produto final para terceiros. Imagine-se recebendo, sem ter solicitado, uma foto da mala de um deputado. No Brasil, é claro, onde cueca é usada por políticos como carteira para transportar propinas, não se corre o perigo de ver algo assim. Qual idiota iria comprovar o flagrante da bofunfa nos fundilhos? Vai que ele tira o retrato de seu instrumental e acaba aparecendo uma ou outra nota de dólar que foi esquecida desde a última arrecadação…
De qualquer modo, constata-se um afã em mostrar as partes pudendas na internet que não está no gibi. Deve haver alguma explicação científica. O inconsciente coletivo está num assanhamento não visto desde a revolução sexual dos anos 1960. Eu entendo disso: fui general de divisão durante a revolução sexual. Combati em todas as posições. Fui condecorado por bravura e valor. Manipulei até canhões. Mas tudo era feito ao vivo e em cores, pessoalmente, em carne (e bota carne nisso) e osso. Foto era coisa de revista.
Será que vivemos nova revolução sexual? Gostaria de lembrar aos que estão de novo em posições de combate, do que foi dito pelo escritor americano P.J. O’Rourke: “A revolução sexual acabou. Os germes ganharam!”. Se bem que, quando se fala em vírus na net, a história é outra: são produzidos por hackers. Os mesmos que Weiner acusou (falsamente) de terem obtido ilegalmente as fotos de seu weiner. De todo o modo, a coisa virou virótica.
Deixe um comentário