Em entrevista exclusiva à revista Brasileiros, o ator Antonio Fagundes apontou vários erros de informação na matéria “Cultura Refém”, publicada sábado (19/9), na Folha de S. Paulo, com assinatura de Ana Paula Sousa e Thiago Ney. Os erros se concentram no quadro Para onde vai o dinheiro dos ingressos… da produção de Restos, de Antonio Fagundes.
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O que se vê com maior destaque na página é o valor do ingresso: 100 reais. Ao lado, a lista de despesas de produção e a quanto equivale cada uma delas no preço do ingresso.
Aluguel do teatro, 20%; investimento em média 20%; imposto de renda 15%; direitos do autor e tradução 10%; imposto de renda 15%; elenco 10%; cota de convites 10%; taxa do cartão de crédito 5%; cachê do diretor 5%; Ecad 2%.
Fagundes chegou ao teatro Faap às 15 para as seis da tarde, falando alegremente com a mulher. Vestia jeans, camisa azul de manga comprida, a mão direita puxando a mala de viagem preta e a outra segurando um charuto aceso.
Sentado na plateia, ele passou a criticar, item por item, o quadro da Folha:
OUÇA:
Antonio Fagundes – Vamos analisar a matéria: quando você põe o preço do ingresso cheio aqui, você dificilmente vai ligar à nota que tem lá embaixo, pequenininha, dizendo que de 70 a 90 por cento dos ingressos são meias-entradas. Teria que colocar do lado do preço do ingresso cheio para o leitor entender que este não é o preço real. O ingresso, na verdade, não custa isso, custa a metade disso. Então, já é uma falha. Aqui nessa relação de despesas não tem nenhum luxo. Digamos que tenha um luxo aqui (que não é um luxo), mas vamos supor que seja, que é o pagamento do elenco, que no caso sou eu, mas este é o segundo erro que depois eu vou apontar, o segundo ou o terceiro.
Alex Solnik – Tudo bem, vamos pelos erros…
A.F. – Não é pelos erros, mas como a matéria não aprofunda em nada, ela só colocou aqui uma porcentagem, tem que explicar o que acontece. Aluguel do teatro… tudo bem… esse aqui: investimento em publicidade, 20 por cento…
A.S. – Eu achava que era fixo…
A.F. – Claro que é fixo. Eu disse a ela que numa casa lotada a meio ingresso, é claro que é fixo. Você acha que a Folha vai dizer assim: me dá 20 por cento do que você ganha e eu vou te dar uma página inteira? Não, eles cobram 70 mil reais por mês. Se a minha bilheteria for de 70 mil reais, esta porcentagem vai a 100.
A.S. – Aluguel do teatro: 20 por cento do preço do ingresso. Isso tá certo?
A.F. – Mas veja só: esses 20 por cento só foram citados para a gente ter uma conta, se eu lotar todos os dias, a meio ingresso, fazendo as contas dá 20 por cento mais ou menos, mas ele pode ir a 40, 60, 80 ou 100 por cento do bruto da bilheteria, porque é fixo. Então, isso aqui já é uma outra falácia. Expliquei tudo isso pra ela… Isso aqui, 15 por cento, não é de imposto de renda… é imposto e taxas… se você põe escrito assim vai ter alguém dizendo: ah, tá mentindo! Eu não falei que era 15 por cento de imposto de renda, mas de todas as taxas que você paga pro governo. Faz uma pequena diferença. Isso aqui… eu tô sem óculos, que que é isso aqui, você que é melhor do que eu…
A.S. – Não sou melhor, mas tenho uma lupa! Aqui é 10 por cento: pagamento de direitos de autor e tradução.
A.F. – Tudo bem, isso é porcentagem… aqui o meu pagamento? 10 por cento… aí, 5 por cento de cartão de crédito. Não cinco por cento, é 3, só que tem mais 2 por cento que você gasta de taxa de administração. Isso tudo contando a casa lotada. Taxa de administração que eu digo é o contador, o administrador, o produtor executivo, pessoas que trabalham pra tua empresa no momento de ela funcionar, elas têm um salário, e é fixo. Eu botei calculando 2 por cento da mesma forma que eu botei calculando 20 por cento de investimento em mídia… Pode ser mais até. Outra coisa: o Ecad cobra adiantado. Meu contrato com o teatro vai até novembro… então, o Ecad cobra três meses adiantado 2 por cento do bruto da bilheteria lotado. Mas e só tiver dez pessoas na plateia? Eu pago, lotado. Já paguei.
A.S. – Mas eles devolvem depois se a lotação não for completa?
A.F. – Não, claro que não. E aqui esses 3 por cento que sobram, que ela diz que são pra pagar todas as coisas que eu tenho pra pagar, esses 3 por cento, essas coisas que eu tenho pra pagar também são fixas. Quer dizer que se eu tiver casa lotada esses 3 por cento também não dão pra pagar, eu vou ter que entrar nos meus 10 por cento, que eu sou o produtor dessa peça. E ao entrar nesses 10 por cento, eu deixei de ganhar meu salário. Então, aqui é pior, quando eu disse que mesmo que eu lote todos os dias eu terei prejuízo… eu terei prejuízo e não receberei um tostão por nenhum dos meus trabalhos, nem como produtor, nem como ator.
Leia a íntegra da entrevista de Fagundes na edição de outubro!
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